terça-feira, outubro 25, 2016

Mais doutoramentos para quê ou para quem

De vez em quando os politécnicos lembram-se de reivindicar a autorização para atribuir grau de doutor, ou seja, "fazer doutoramentos". O ministro incentivou esta pretensão criando bolsas de investigação para os politécnicos. Já fazerem Mestrados é duvidoso que seja essa a sua vocação, agora doutoramentos, vai com certeza contra a diferenciação intencional entre os dois subsistemas de ensino superior. Os industriais estão sempre a queixar-se que não há pessoal habilitado para as suas indústrias e que as universidades formam "doutores" (licenciatura), mas que não lhes resolvem os problemas práticos. Os politécnicos constituiriam o sistema vocacionado para esse fim. Parece que ou não está a responder cabalmente a esta pretensão das industrias, ou já não o quer fazer. As Universidades para além dos cursos serem cada vez mais teóricos, conhecendo-se o corte em equipamento e a aversão de muitos professores às aulas práticas, aliás que é geral a todo o ensino, sendo o caso mais notório o ensino secundário, aviam Mestrados e Doutoramentos quanto podem. Alguns destes doutoramentos foram transformados em programas doutorais, o que dá jeito para dar mais horas a docentes que vão ficando com menos alunos com a crise de alunos (cíclica) para os cursos de engenharia. Embora os doutoramentos já não são o que eram, ou seja, pôr à prova as capacidades individuais de um aluno já com Mestrado fazer I&D utilizando a sua iniciativa, uma vez que para além de serem ensinados em programas doutorais também fazem, em muitas áreas nomeadamente as mais científicas, doutoramentos em conjunto, através de projetos que envolvem vários investigadores, há o problema de uma formação tão específica ter interesse para o tipo de empresa que predomina em Portugal, PMEs e indústrias transformadoras sem capacidade para dar seguimento ao percurso científico destes alunos. Muitos acabam por emigrar, tendo todo o esforço feito cá em Portugal servido para outros países que não contribuíram para esse esforço. a não ser que tenha sido através de programas europeus e o país para onde vai o aluno também tivesse feito parte desse programa. Agradecem as multinacionais esta nossa generosidade, e agradecem países como os EUA, e alguns países europeus como a Alemanha e o Reino Unido. Somos parte dos países que formam doutores, mas não fazemos parte dos que os empregam como especialistas de um determinada matéria. Há exceções claro. Mas é preciso ver mesmo nessas exceções o que o doutorado vai fazer, se não serve outros interesses da empresa como angariação de mais subsídios em projetos de I&D. O próprio doutorado tem na maior parte das vezes que "esquecer" o doutoramento e fazer outra atividade para arranjar um emprego. Não há, é verdade, no seio dos professores universitários, a perceção, que para eles é quase uma certeza embora não tenham dados em que se basear, que a investigação é para ser aplicada e muito menos em Portugal, dada a pequenez do tecido industrial tecnicamente evoluído. Por isso muita da investigação que se faz não é para ser aplicada. Mas nesse caso, é necessário formar doutores para serem eles o motor de novas indústrias e empresas de outra índole que não industrial. Porém estes doutores, numa visão de "pay-back" ao país que tanto investiu nesses alunos, devem ter uma formação excelente, com equipas de investigação excelentes, e que tenham objetivos de aplicar o que fazem, mesmo que seja a médio-longo prazo em indústrias existentes ou a formar, em Portugal. Para quem sabe o que custa arrancar com estas equipas, com reconhecimento internacional, não compreende como por decreto se pode instituir mais doutoramentos, sejam em universidades ou politécnicos. Muitos alunos fazem doutoramentos porque gostam da investigação. Outros porque pensam um dia emigrar para um daqueles países que acolhem doutorados. Outros pelo prestígio de ter um doutoramento, mas depois arranjam outro tipo de atividade. Poucos pensam que o seu doutoramento vai lhes dar um bom emprego em Portugal. Quando havia renovação e vagas no ensino superior, esse era um dos objetivos principais: ser professor universitário, e mais recentemente, do politécnico. Com tempo vai haver renovação, mas para um ínfima parte dos que se doutoram em Portugal. Por isso quando os politécnicos pedem para "fazerem" doutores, pergunto, mais doutores para quê? Ou, para Quem?

domingo, outubro 09, 2016

PIPs e tiques no urbanismo de Braga

As quintas de Braga, originalmente a serem destinadas a espaços verdes, já têm outro destino: o imobiliário. No caso da Quinta dos Peões, já neste espaço discutida, está destinada a "equipamentos" que incluem uma Associação do estudantes, um centro de conferências, entre outros, todos edifícios obviamente imponentes em aspeto e com certeza em tamanho, a julgar pelos últimos que têm sido construídos no campus de Gualtar, também com designações interessantes para não haver muita contestação. Agora é a vez da Quinta das Portas. A julgar pela descrição do que foi decidido e apresentado à Assembleia Municipal, pelos vistos já depois de se terem iniciado as obras, este espaço à entrada de Braga, quem vem do Porto pela estrada nacional, será ocupado por um espaço comercial (mais um!) neste caso do Continente. A acreditar na notícia no Correio do Minho, este projeto tinha tido um parecer desfavorável dos técnicos da Câmara que têm essa função, mas foi ignorada pelo vereador Miguel Bandeira, também professor da UM, que detém o pelouro do urbanismo. Argumenta M.B. numa longa justificação, que os proprietários têm a prerrogativa de decidir para que fim se destina estes terrenos, interpondo um PIP (?) ao PDM aprovado, e se a Câmara não o fizesse teria de pagar dezenas de milhares de euros aos proprietários. Aliás, argumenta, como é habitual a Câmara fazer, que esteve acessível ao público o que sanciona a seu ver qualquer decisão que se tome, mesmo que seja contrária às promessas eleitorais nas últimas eleições autárquicas, em sentido contrário, que é na realidade a única consulta que é válida. Em primeiro lugar, quem são estes proprietários? Adianta que muitos proprietários não usam estes PIPs mas este usaram. Serão os originais donos de um quinta agrícola e portanto alheios a este tipo de jogadas, ou entretanto passaram a ser outros com capacidade para este tipo de pressão? Tal como argumenta a oposição, este executivo já ultrapassou o anterior com concessões em lugares nobres da cidade o anterior, como se constatou ao vermos o LeRoy Merlin surgir numa avenida ladeada por zonas verdes, muito apreciada pelos bracarenses que percorrem aquela avenida nos seus períodos de lazer, fazendo jogging ou pura e simplesmente andando a pé. Agora, para além deste enorme pavilhão com um parque ladeando o passeio desta avenida, têm ainda um outro espaço, que deve estar para breve a sua adjudicação para mais um destes pavilhões substitutos do campo agrícola adjacente, nascer e tapar esse campo com cimento para estacionar carros, e em altura tapar o horizonte e a vista sobre a cidade. Para já, estão lá uns montes de terra, e o espaço está vedado por uma vedação metálica, que em nada condiz com o que ainda há de agradável naquela via. Não se entende como isto é permitido por um Câmara que originou de um panfleto de crítica a uma anterior equipa que geriu a Câmara durante muitos anos, mas que no fim do mandato vinha corrigindo e até fazendo menos, em construção, que era o que se pedia, e melhor. O último centro comercial construído na vigência do anterior executivo, foi fora da cidade, a Nova Arcada. Estes são na cidade, trazendo pressão nos acessos viários, que já de si estão congestionados em períodos de compras (fins de semana e fim da tarde). Soa a uma fraca desculpa o que se vem agora dizer sobre este assunto, quando muito mais do que se diz que se teria pagar aos proprietários da quinta das portas, seria necessário para aliviar a envolvente com novas vias para descongestionar o tráfego. Claro que não se fazendo estas vias, os bracarenses que aguentem, e sendo novidade, até aguentam na fila para visitar mais um espaço apetecível para os consumidores "de montra" nos seus passeios de fim de semana. Muitos vem dos arredores e não têm que suportar estes inconvenientes e esta vista estragada diariamente como muitos habitantes de Braga. E nós a pensar que nos tínhamos livrado destes "tiques" urbanísticos com a saída do anterior executivo e a entrada deste no governo da Câmara de Braga. Só em sonhos....