sábado, fevereiro 25, 2012

A fé de alguns países e a reacção de outros: a via da Irlanda no ensino (2)

Temos tido algumas demonstrações de fé nos últimos dias por parte dos nossos governantes: é a ministra do ambiente que diz que tem fé que chova e é o primeiro ministro que tem fé que em 2013 o país volte aos mercados sem recessão e com a economia a crescer. Nada disto é realista mas tem que se admirar a fé dos nossos governantes. Para muitos de nós também não há na verdade muito mais que se possa fazer senão esperar, e ter fé é uma forma de esperar... e não fazer nada para inverter a situação. A fé mantem-nos quietinhos tal como acreditar no destino nos desincentiva de atuar. É o fado dos portugueses. Outros países quando confrontados com a adversidade têm seguido caminhos mais reactivos, reagindo com energia e confiança, lutando com as armas que têm. Na economia temos o caso da Islândia que usou a sua pequenez para não pagar a divida dos seus bancos. Temos a Grécia que usa a força dos seus sindicatos para na rua combater o inevitável rolo espremedor da troika duma forma que não deixa dúvidas. Temos a Irlanda cuja economia cresce mesmo com a troika, o que se deve a uma governação imaginativa, mesmo sendo um país católico como Portugal. Na Irlanda o pragmatismo fala mais alto que a fé. Já aqui exprimi o que é reconhecido à Irlanda como vantagem sobre Portugal: a educação. Teríamos muito a aprender sobre o pragmatismo da educação na Irlanda, voltado para a indústria IT e muito focado na formação profissional, mais do que na formação teórica. A nossa educação pelo contrário forma doutores nos politécnicos por exemplo, quando devia formar técnicos altamente especializados. Nós na UM tivemos uma oportunidade de termos uma associação com politécnico o do Cávado e Ave e perdemo-la. Eles sozinhos não têm "guidance" nós na UM perdemos uma hipótese de ter cursos técnicos altamente especializados, virados para as novas indústrias. Talvez se tivéssemos um futuro conjunto teríamos condições para fazer essa viragem, e não esperar e ter fé que os nossos cursos se tornem mais relevantes apenas mudando os nomes altamente motivadores (mas sem interesse para a indústria). Os consórcios defendido pelo anterior governo faria sentido neste caso, pois parece-me haver uma complementaridade entre Universidades e Politécnicos. Os politécnicos teriam contudo que deixar de ser Universidades de segunda e passarem a ser politécnicos de primeira, com uma componente técnica muito maior que a que têm neste momento. Há excepções, mas o IPCA não me parece ser uma e a UM poderia promover essa diferença e complementaridade simultânea entre as duas instituições, também para seu próprio bem. Poder-se-ia, partilhar recursos, nomeadamente humanos, e beneficiar também por essa via, através do intercâmbio de experiências diversas dos seus docentes e técnicos

sábado, fevereiro 18, 2012

O desemprego e a imagem do País

O desemprego atingiu os 14%. Entre a população jovem licenciada o desemprego aumentou 28% no último ano. A situação é em parte devido à falta de estímulo à economia e em parte devido ao consumo interno, fruto da recessão. Mas será só? Por exemplo a Irlanda que está na mesma situação que nós e têm o mesmo problema de desemprego? Penso que não será tão grave. Uma diferença é a do investimento estrangeiro que na Irlanda é muito mais alto que em Portugal. As razões podem ser várias, incluindo o facto de ser investimento americano sendo conhecidas as ligações entre estes dois países por via dos muitos irlandeses de várias gerações que há nos Estados Unidos. Mas também há o grande investimento que a Irlanda fez na formação dos seus jovens para atrair investimento nas áreas de tecnologia de ponta. E conseguiram-no. Nós o que conseguimos foi o investimento de empresas de mão-de-obra intensiva que foram atraídas pelos baixos salários. Acresce ainda que essas empresas receberam subsídios e isenções fiscais para se instalarem em Portugal para depois saírem quando o custo da mão-de-obra já não era aliciante. Foram para os países de Leste e para a Ásia. Só para abrir um parêntesis, nós temos uma relação com os EUA de subserviência, em que cedemos a base das Lages a troco de tostões, mas somos humilhados pela expulsão de emigrante açorianos que ou não têm os documentos em dia ou cometeram pequenas infracções nesse país. Sei que parece não ter nada a ver, mas a imagem fica e nestas coisas incluindo o investimento estrangeiro, a imagem dum país também é importante. Quanto à formação dos jovens para atrair investimento estrangeiro, bastante se fez nos últimos anos, não só no ensino superior mas também nas escolas tecnológicas. No entanto parece que tem sido em vão no que respeita ao investimento estrangeiro. O que se incentiva é o contrário, para os jovens irem para o estrangeiro! Não houve nem há uma campanha de divulgação no estrangeiro, nomeadamente junto desses grandes grupos económicos, sobre o progresso do ensino tecnológico que serviria para essas empresas se instalarem em Portugal. Pelo menos não de uma forma inteligente. O que tem havido tem sido a promoção do turismo, sol e praias e infelizmente o que tem sobressaído lá fora, nomeadamente nos países nórdicos, é que somos um país de sol e praia, e que consequentemente não trabalhamos por essa razão! Os EUA também têm sol e praias e é precisamente numa das zonas com mais sol e praias que se desenvolveram as indústrias mais avançadas, na Califórnia. Tem que se transmitir essa imagem também para Portugal, que uma coisa não impede a outra. Além do investimento estrangeiro há o nosso próprio investimento cá dentro. O que se tem verificado é que as indústrias exportadores têm estado bem. No entanto sem uma economia a funcionar normalmente, devido às medidas da troika e do governo, sem o acesso ao crédito por parte das empresas, mesmo essa componente positiva da nossa economia está em risco. As empresas que exportam debatem-se no entanto com margens muito baixas, sendo que será difícil se capitalizarem para aguentar a corrida, que é de longo curso. Um das razões é também da imagem. Aqui ao lado na Galiza, o grupo Inditex conseguiu através de marcas, nomeadamente a Zara, que se impuseram no mercado, ultrapassar todas as expectativas sendo o maior do mundo nessa área. E não foi pela qualidade. Foi pela forma como funcionavam, com as roupas nas lojas quando as pessoas as queriam através de uma logística muito bem organizada, mas foi também pela imagem. E que eu saiba, por muito respeito que os galegos me merecem, a Galiza não tem uma imagem melhor que a portuguesa. Mas o que transmitem é uma imagem de Espanha, um país moderno que conseguiu impor a sua imagem lá fora. E também têm sol e praias, mas conseguiram tornar essa luminosidade a favor deles. Só mais um à parte: ainda bem que assim é, porque grande parte das exportações devem-se às empresas têxteis que estão a "exportar"..para a Zara e companhia. E lá estamos nós, dependente de terceiros e com margens esmagadas. Se pensarmos no Minho como a Galiza de Portugal, talvez possamos fazer o mesmo. Não existem as praias do Algarve, nem temos essa luminosidade para transmitir, mas lá fora ninguém vai perceber se a utilizarmos como nossa!

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Porquê na quinta dos peões?

Num artigo de opinião no Diário do Minho foi sugerido que o futuro centro de congressos fosse para a zona de S. João da Ponte em vez da quinta dos peões. O argumento era de que seria uma forma de trazer vida para uma zona que a Câmara estará também a pensar revitalizar. Este processo em si tem tido a oposição da igreja, nomeadamente da arquidiocese de Braga, que reivindica para si a titularidade do terreno envolvendo a capela de S. João. Uma vez resolvido este diferendo, faz de facto todo o sentido ter lá um edifício deste tipo, leia-se, de elevada volumetria, uma vez que há bastante espaço e tem bons acessos. Este tipo de edifício na quinta dos peões também vai aumentar o movimento numa zona já de si com problemas de fluxo, devido à proximidade das entradas par o campus de Gualtar e ao Macdonalds e hotel Meliá. Estes dois edifícios já foram construídos na área original da quinta dos Peões embora a variante do Fojo os separe. Tanto quanto se sabe o Mcdonald’s não teve o parecer positivo da UM nem foi a discussão pública o que é grave dado o impacto que tem sobre os acessos, nomeadamente às horas das refeições. Uma vez que não houve qualquer objecção à sua instalação, quem propõe este prédio sabe que pode contar com a passividade da Academia mais uma vez, principalmente quando se trata de um edifício com objectivos "nobres", como um centro de congressos. Enganem-se aqueles que acham que o centro de congressos será um anfiteatro e pouco mais. Vão aproveitar e juntar andares com cafés, mais restaurantes, eventualmente lojas, e outros negócios. Será um mini-centro comercial. E será volumoso. Em vez de um espaço aberto que permite ao campus respirar, teremos a tapá-lo um edifício de betão e vidro com vários andares, que servirá de negócio para alguns mas não servirá para a UM. Nem dá para ir almoçar ao restaurante do campus.
Depois há a Associação Académica. Para lá dos argumentos sobre o edifício que será também algo de "encher o olho", servirá para os alunos fazerem as suas festas e praxes, pois terá com certeza um bar digno duma Associação que lucra com a cerveja mais do que com fotocópias. Basta imaginar quanta cerveja se vende no enterro da gata!
Oxalá me engane, mas o assunto é importante demais para que fique no segredo dos gabinetes ou num edital escondido num jornal local. Todos temos o direito de saber em pormenor o que se planeia de facto para este espaço.

sábado, fevereiro 04, 2012

Quinta dos Peões de novo em discussão

A quinta dos peões volta às notícias pela voz do candidato à Câmara pelo PS, Vitor de Sousa. Até ao Verão vai ser decidido o futuro daquele espaço. Nada sobre a consulta que se anunciou anteriormente. Tudo na mesma em relação às intenções. Disfarçado de intenções de ligação à UM, com o óbvio intuito de "dourar a pílula", anuncia-se a construção de um centro de congressos e a sede da Associação Académica. No entanto nada se diz sobre a dimensão de tais edifícios. O centro de congressos será necessariamente um edifício volumoso e a Associação também será com certeza algo digno da sua megalomania. Os actuais alunos estão a pôr em causa a qualidade de vida do seu período de estudo na UM e principalmente o dos futuros alunos. Em vez de um espaço verde, vão ter dois edifícios de betão e vidro, de dimensões que teme-se não permitem qualquer espaço verde envolvente digno desse nome. O Palácio de congressos será um grande negócio para alguém, que não será com certeza a Universidade. Tapará a vista que ainda de alguma forma ampla se vislumbra de e para a fachada do campus. Sabemos como a Associação desde o seu início se tornou num negócio para muitos alunos e outros que gravitam em seu redor. No entanto o seu cariz supostamente representativo dos alunos, e digo supostamente porque nas eleições para a Associação a abstenção ronda os mais de 75%, dá-lhes uma responsabilidade acrescida neste tipo de decisões. Se mais ninguém faz nada, e na altura da transferência dos terrenos do Estado para a Câmara e a sua alienação o reitor de então, Sérgio Machado dos Santos, teve uma atitude absolutamente lamentável, ao deixar que se alienasse os terrenos para um particular, nem mais nem menos que o sr Rodrigues Névoa, poderiam agora ser os estudantes a fazê-lo, uma vez que o suponho que o actual reitor se sentirá atado de mãos e pés para poder fazer algo. O terreno pertence a Rodrigues Névoa mas a autorização de construção deve pertencer à Câmara, portanto talvez o reitor e o Conselho Geral possam ainda ter uma palavra a dizer junto da Câmara. Anunciou-se uma consulta pública há uns meses atrás. Onde estão os resultados dessa consulta pública?
Mais uma vez, o dinheiro fala mais alto. O que a UM devia fazer era desincentivar a utilização pelos seus docentes desse Palácio de Congressos a erigir nesse local como forma de pressão para o construirem noutro qualquer e exigir pelo menos o que foi acordado mais tarde, que haveria uma zona ampla livre de edifícios em frente ao campus, e que qualquer edifício a construir seria de baixo volume, digamos um piso, e seria construído perpendicularmente à fachada do campus, minimizando a sua ocultação e impedindo a sua asfixia.