terça-feira, agosto 30, 2011

Uma rentrée universitária atribulada

Ao aproximar o novo ano lectivo e o fim do ano financeiro, demite-se a Vice-Reitora que tem o pelouro das finanças da Universidade, Margarida Proença. A altura não podia ser pior, principalmente com o aproximar do fim do ano e do fechar de contas, que é sempre um quebra cabeças para a instituição. Daqui se podem tirar várias ilações: Uma é que o reitor foi apanhado de surpresa, precisamente porque não iria demitir a pessoa que instituiu e que controla todo um novo processo de contabilização das despesas, com a introdução de dimensões e outras designações que aparecem na página da intranet que dá acesso à contabilidade dos projectos e que são para muitos ainda um mistério.
Outra possível ilação é que foi o reitor que a demitiu, mesmo em má altura, aproveitou as férias tal como fazem as empresas, para arrumar a casa. Mas nesse caso, demitiu porquê? Tal como aparece noutro blogue, se a demitisse teria alguém já na manga, o que parece não ser o caso, senão teria anunciado a sua substituição e não a sua demissão.
Há aqui toda uma telenovela por desvendar se o reitor não vier explicar os porquês da demissão. Em jogo está a estabilidade e a celeridade dos processos na Divisão Financeira e Patrimonial e em última análise, a imagem da Universidade perante a tutela, em momentos de crise que exigem uma gestão muito profissional e criteriosa das contas deste ano que está próximo do fim.
Aguarda-se pois uma substituição célere e suave, com a ajuda activa de quem cessa funções na passagem do testemunho.

segunda-feira, agosto 22, 2011

O corporativismo alastra

Está visto. Quem manda são as corporações. São os sindicatos (corporações mais propriamente) dos professores que fizeram recuar sucessivos governos na avaliação até chegar ao ponto em que não vão ser avaliados (já não vão ser os mais antigos..), são os polícias que fazem greve disfarçada de baixa médica por razões psicológicas (único na Europa e talvez no mundo esta capacidade de improviso dos portugueses), são os militares que fazem promoções à revelia do estatuto geral da função pública que não permite aos restantes funcionários tal desrespeito pelo Estado (por não terem armas?), foram os juízes que mantiveram os seus dois meses de férias, são os maquinistas da CP que param um inteiro sistema de transporte, por também acharem que estão acima dos outros funcionários do Estado ou de empresas públicas e autarquias ao exigirem desbloqueamento das remunerações, e agora veja-se bem... são os árbitros!
Porque não hão-de os árbitros fazer birra também?
Afinal foi só o Sporting que os pôs em causa, nada de mais. Têm o F.C.Porto e o Benfica mudos e indiferente, e principalmente o FCPorto que tanto os apaparicou no passado com fruta e outras guloseimas (segundo escutas de telemóveis por todos ouvidas). Percebo pouco de futebol e não é só por ser adepto do Sporting. Poderia ter sido e pode ainda ser ao contrário: ter o Sporting e o Benfica a apaparicá-los e quem se trama é o FCPorto, se não se mudar radicalmente a mentalidade destas corporações.
As corporações (incluindo alguns sindicatos que actuam como tal) jogam com as divisões na nossa sociedade. As profissionais (professores, juízes, e outras) jogaram com a divisão política, apoiando-se nos partidos da oposição ao governo para alcançarem os seus objectivos. Os árbitros jogam com a rivalidade entre os três grandes clubes, posicionando-se com os que na altura estão na liderança. Tudo porque neste País ainda não se aprendeu que a Justiça, seja a justiça profissional em que todos devem ser tratados da mesma forma ao serem ou não avaliados, seja a dos tribunais, ou a do futebol, não deve estar ao serviço de quem berra mais (leia-se, quem tem mais acesso aos media)ou quem mais intimida a sociedade, seja com a sua força latente, no caso das forças armadas, seja com a falta de segurança das populações, no caso da Polícia, seja com a educação dos nossos filhos, no caso dos professores, ou seja com o nosso tempo livre e estado de espírito, no caso dos árbitros. Num Estado de Direito, deve, isso sim, estar ao serviço do País, que é algo que muitos se esquecem quando olham para os seus previlégios (actuais, futuros ou em risco). Já não bastava a crise.

sábado, agosto 20, 2011

Consequências de uma antecipada "silly season" de alguns políticos

De volta de umas férias, deparo com notícias que demonstram que nada mudou na política. O que o os partidos da oposição criticavam, aplicam com tanto ou mais afinco que o partido socialista. "Jobs for the boys", aparentemente quase 50% das nomeações para os ministérios foram para detentores do cartão partidário. Ingerência nos média através de uma acção de recompensa pelos bons serviços de Mário Crespo, amigo de Moniz e Moura Guedes, com a sua prometida nomeação para comentador em Washington. Impostos que não se iriam aplicar, afirmado mil vezes por Paulo Portas e reafirmada a vontade de cortar nas despesas, o que se verifica é que nunca tivemos nos últimos anos impostos tão gravosos: subsídio de Natal cortado daqueles que trabalham por conta de outrem e daqueles que estão a recibos verdes. Neste último caso nem a troika foi tão longe. Outro imposto que aumenta é o IVA para compensar as empresas com a queda do TSU (pelos vistos até os bancos beneficiam desta queda, o que é perverso). Enfim, já Miguel Sousa Tavares disse na sua crónica no Expresso que se fosse o Sócrates a tomar estas medidas caía o Carmo e a Trindade. Qual a razão de tão pouca contestação? Estado de graça do governo? Cá para mim é o tomar de consciência que algo correu terrivelmente mal quando se chegou ao ponto da antipatia pessoal pelo Sócrates, alimentada pelos média em grande medida, ter suplantado a razão, ou seja o discernimento dos partidos, ao ponto de haver uma aliança entre partidos como o parido comunista e o BE a aliarem-se a partidos no outro extremo do espectro político, o PSD e o CDS, para deitarem o governo PS abaixo. PCP e BE sucumbiram a pressões dos sindicatos dos professores na questão da avaliação que os impulsionou para outras fantasias, como a de que teriam o povo do seu lado se houvesse eleições, como se os professores representassem o eleitorado (a "silly season" começou muito antes do Verão para estes partidos!). O resultado foi o que se viu. O PCP manteve o seu eleitorado imutável, sem crescer, e o bloco quase desapareceu. Foi o maior favor que fizeram àqueles que sempre criticaram, os que eles designam como os representantes do grande capital e dos latifúndios. A privatização a que sempre se opuseram vai ser muito maior que o que estava previsto, a escola pública vai competir em pé de desigualdade com a privada, as Misericórdias serão subsidiadas com dinheiro tirado ao Serviço Nacional de Saúde numa promiscuidade entre a religião e o Estado, muito do agrado do CDS. Nada disto está no entendimento com a Troika. Quanto à Universidades, nada será como dantes. Já se anunciam cortes de 10%: quando os ordenados constituem 95% das despesas, significa isto cortes nos salários? O reitor já disse que vai cortar em horas extraordinárias dos funcionários (nem me tinha apercebido que as havia) e controlar a progressões (hoje notícia no DN)
A avaliação dos professores no superior não vai ter pois consequências pois não pode haver progressões nem nos escalões nem na carreira de cada professor com este cenário. Qual o incentivo para produzir trabalho científico?
Quanto à avaliação dos professores do secundário, fala-se que os mais velhos, os do escalão 8 e 9 (?) não serão avaliados, pois nas palavras do ministro, estes já são muito bons! Este era o ministro que era exigente! Professores que foram transitando de escalão em escalão só devido à sua idade são muito bons? Deve estar a confundir os professores com o vinho do Porto!
E assim vai o País. Se não estava bem com Sócrates também não é com estes governantes que se vai estar melhor, mesmo contando com o denominador comum da troika. Só se for para aqueles que têm dividendos a receber e não paguem os impostos com que nos brindaram para o Natal.