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domingo, dezembro 18, 2016

Fontes legítimas de I&D e a sua proteção

Num programa da RTP1, "sexta às 9", um programa que procura e denuncia várias situações problemáticas e atitudes abusivas, emitiu um episódio há umas duas ou 3 semana atrás, sobre as bactérias nos hospitais. É um programa que nem sempre tem o cuidado de fazer o trabalho prévio de assegurar a legitimidade das suas fontes. Apercebi-me desse facto ao ver no programa sobre o problema de bactérias em hospitais causadores de infeções muitas vezes fatais, como informação lateral ao problema discutida por especialistas de renome, médicos principalmente, uma investigação efetuada na UM por mim e a minha equipa na altura, em que se obtiveram resultados interessantes com um antomicrobiano inserido em nanopartículas de sílica. No entanto, a tecnologia foi apresentada por um auto-denominado investigador, em nome de uma empresa de Barcelos onde trabalha, a Smart Inovation. Este investigador só integrou mais tarde a equipa, não se coibindo no entanto de se apropriar da tecnologia dos antimicrobianos desenvolvida por outros antes dele, para a transferir para a empresa onde trabalha. Este tipo de abuso é recorrente com este investigador, com outras tecnologias derivadas, como nanopartículas de sílica com repelentes de mosquitos, desenvolvidas pela mesma equipa na UM mas já com a sua participação, divulgando-as também como tendo sido desenvolvidas na sua empresa. Nestes casos, em que a Universidade não se protege da usurpação do seu património intelectual, os professores e os investigadores honestos da sua equipa podem ver o seu trabalho furtado por qualquer investigador menos honesto, principalmente se aliciado por uma empresa a fazê-lo. O professor pode ainda tentar proteger a tecnologia que desenvolveu na Universidade com um acordo de confidencialidade, o que será inútil porque não é um documento oficial da UM. Mesmo acordos de confidencialidade oficiais inseridos, por exemplo, em contratos de bolseiro são pouco eficazes se a Universidade não atuar defendendo esse mesmo acordo. A Universidade não protege a investigação efetuada entremuros, por não ter um gabinete de proteção da propriedade intelectual dos seus professores. Existe um gabinete de patentes, mas se a tecnologia não é patenteada, o que ocorre na maioria dos casos, não há qualquer proteção, não havendo um gabinete jurídico que atue nestes casos. Por outro lado e mesmo que se registe patente, a UM só aceita registá-la se houver uma empresa que assuma os custos, mesmo que seja uma empresa spin-off constituída pelos inventores. É uma situação confortável para a Universidade, não assumindo os custos mas auferindo das royalties ou da venda da patente. Em contrapartida os inventores da spin-off têm que custear as despesas de registo, ficando-se muitas vezes pela patente nacional por a patente internacional ter custos incomportáveis para uma empresa start-up/spin-off no início de atividade. A UM também não se responsabiliza pela proteção da tecnologia, seja patenteada ou não. Casos como o relatado, voltarão a ocorrer no futuro se a situação não se inverter, furtando à UM o que a ela pertence por lei, e aos investigadores o que a eles pertence como parte do seu currículo e da sua propriedade intelectual (direitos de autor).

domingo, janeiro 03, 2016

Uma Fundação para servir a região

No final do ano entrou em funções o novo governo, e quase de imediato confirmou a passagem da UM a Fundação. Foi uma prenda de Natal para o reitor António Cunha que sempre defendeu a Fundação como forma de governo da universidade. Não só pela maior flexibilidade na gestão, por ser uma gestão mista privado-pública, com a possibilidade de contratar professores escapando ao controlo do Estado que congelou as contratações na Função Pública há anos, e não parece alterar essa sua posição, mas também por poder adquirir e vender imobiliário sem ter que passar pelo controlo da tutela e talvez nem do Tribunal de Contas. Essa parte nós compreendemos e até podemos beneficiar tanto com as contratações como com a aquisição de edifícios, desde que ambas sejam necessárias. Não precisamos nem de contratações desnecessárias nem de edifícios de fachada, sem uma função nobre, digna de uma Universidade que ombreia com as maiores universidades portuguesas. Desde que não enveredamos por novo-riquismos no imobiliário, nem em contratações sem objetividade. Seria uma oportunidade perdida. Se por outro lado se apostar em novas valências, sejam cursos virados para as necessidades da região, sejam infraestruturas para Centros de I&D de Excelência que tenham um percurso de apoio à indústria da região, e para, por exemplo, alojar empresas spin-off que emanaram da UM, aproveitando os espaços disponíveis no Avepark por exemplo, então já é, na minha perspetiva, uma evolução no sentido positivo. A UM deve mostrar a diferença em relação a outras Universidades, por estar no meio de uma região de pequenas e médias empresas, PMEs, na sua maioria indústrias transformadoras de setores tradicionais mas também nichos de excelência em eletrónica e software. Menos conhecido é a evolução em empresas de produtos bioativos, que quando desenvolvidos em têxteis, potenciam as indústrias tradicionais como a indústria têxtil. Outra área de interesse serão as indústrias a montante da indústria têxtil, tais como a indústria de corantes e de produtos auxiliares têxteis, quase na totalidade importados. O que fica no País, depois dos gastos nestes produtos, é muito pequeno para o que poderia ser se houvesse uma maior integração de produtos portugueses no artigo final têxtil. É preciso portanto que a Universidade aposte em novas indústrias de apoio às indústrias existentes, nomeadamente empresas a montante. Mas também é preciso que a Universidade invista em apoio à Gestão dessas empresas, que carece de uma lufada de ar fresco, muitas ainda nas mãos de famílias conservadoras eoutras nas mão de gestores de fundos de capital de risco, que não entendem nada de gestão de empresas transformadoras, tais como empresas têxteis. As humanidade são também importantes nas áreas que são muitas vezes menosprezadas na indústria mas que tanta falta fazem. Por isso noutros países os gestores têm muitas vezes outra sensibilidade por serem formados em áreas "soft" como línguas, psicologia, filosofia entre outras. O que não precisamos é mais do mesmo, com investimento nas mega-áreas existentes na UM, que já deram mostras de viverem à custa de projetos que mais não são que o suporte a bolseiros e investigadores que não estão inseridos nas áreas existentes no tecido empresarial do norte de Portugal, nem sequer do país, mas que estarão numa ilha sem pontes para esse mesmo tecido empresarial. É preciso criar estas pontes, e se a Fundação o fizer, que seja bem vinda.

sábado, dezembro 05, 2015

A máquina científica a funcionar

Temos a ideia que no caso das universidades quem tem mais publicações é quem tem mais mérito. É, a meu ver, uma forma simplista de avaliar o mérito de um investigador. Publicações são na maior parte das vezes baseadas na continuidade de publicações em que só a primeira é original. E mesmo assim esta primeira pode ter sido baseada noutra de outro investigador. É assim que cresce a ciência, step-by-step e não por transformações radicais. Há quem colecione publicações. Há quem tenha equipas em que cada um faz a sua parte, qual cooperativa, para produzir publicações em massa. Nestes casos o número de autores é normalmente elevado, não se percebendo muitas vezes quem teve a maior fatia da investigação em causa. O diretor do centro em muitos casos também faz obrigatoriamente parte do rol de autores, embora não tenha participado ativamente no trabalho. Esta forma de fazer I&D é transversal a muitas áreas e em muitos países. É assim há pelo menos duas décadas e são muitos os que beneficiaram desta "entreajuda". É essa a perceção do investigador que não faz parte destas autênticas fábricas de "papers" e que depois olha com ironia para os resultados que essa investigação tem na sociedade e nomeadamente nas empresas, e verifica, baseando-se nas estatísticas que têm vindo a ser publicadas sobre esta discrepância, que não têm de facto uma correspondência. A questão também em termos científicos torna-se endémica, quando os doutoramentos são baseados em publicações. Como se pode avaliar um trabalho individual com base em publicações coletivas? Nunca entendi esta forma de submeter teses de doutoramento. E dá-se desta forma a compensação ao investigador que esteve numa equipa e ajudou também a outros obterem os seus doutoramentos. Agora com a classificação dos doutoramentos então ainda é mais surreal. Como se pode distinguir entre um 14 e um 19 se não há um só autor no trabalho que se apresenta, mas vários autores? Não será de estranhar que com esta falta de objetividade, a classificação que agora é norma na Universidade do Minho não signifique nada, tanto pode ser 14 como 19, dependendo de muitos fatores subjetivos, como uma boa apresentação, um júri mais tolerante ou mais exigente, a dimensão júri, ou pura e simplesmente a boa ou má disposição do júri. Assim se joga um intervalo de meia dúzia de valores. O que a Universidade deve tentar alcançar, como têm insistido ultimamente muitos responsáveis políticos, além de comentadores vários, é uma maior influência do que se faz na Universidade, naquilo que as empresas necessitam para reformar e inovar. Se saíssem mais patentes das universidades talvez o panorama fosse diferente. Mas o número de patentes saídas das Universidades é confrangedor quando comparado com outros países de dimensão e economia semelhante. Hoje o Expresso de novo, num artigo sobre a COTEC, refere-se que Portugal tem 40% da média europeia de patentes e só 3% estão presentes nas exportações, em licenças concedidas, o que já tinha sido referido noutro artigo aqui também referenciado, e com um número de patentes ainda inferior à média europeia(18%). Seja como for, os números são evidentes e devem ser motivo de reflexão de todos os professores e investigadores das Universidades.

domingo, novembro 22, 2015

Uma mesa-redonda sobre transferência de tecnologia universidade-empresas

No aniversário da Tecminho, foi tema do colóquio promovido para o efeito, a transferência de tecnologia das universidades para a indústria. Falou-se da discrepância entre o ranking de Portugal na Ciência e na Inovação, a primeira avaliada pelo número de publicações e a Inovação pelo número ode patentes, entre outros critérios, tais como a I&D no Estado, nomeadamente nas Universidades e nas empresas. Um comentário do moderador José Mendes, vice-reitor da UM, foi indicativo de como os números enganam, referindo.se que muita do I&D nas empresas são atividades consideradas de I&D e que não o são na realidade, tal como o trabalho de desenvolvimento de software efetuado em bancos. Não me espanta esta constatação, uma vez que num mundo em que os números e as estatísticas é que valem, tudo serve para empolar esses mesmos números. Numa nota otimista, o representante da ADI, Agência de Inovação, apresentou dados de evolução já conhecidos, sobre o aumento do número de projetos de co-promoção desde o último programa quadro da CE ao presente programa 2020. Não especificou como esta evolução encaixa na Inovação, uma vez que muitos destes projetos são mais baseadas na evolução do que na inovação. Não se refletindo em patentes, não se pode distinguir se é novo o que que se faz nestes projetos ou se pelo contrário é de facto uma evolução. O que se depreende destas afirmações, com referências a empresas tradicionais, confirma a suspeita de que são inovações evolutivas e não de novos produtos inexistentes no mercado. Os outros intervenientes presentes na mesa redonda eram o representante do INL, Instituto de Nanotecnologia Ibérico , e um professor Universitário holandês. Este último, sendo psicólogo, referiu que para as start-ups seria positivo terem outras valências que não só engenheiros ou cientistas, mas também que incluam licenciados em humanidades que poderiam fazer uma ponte com a sociedade, uma vez que a linguagem dos engenheiros/cientistas não é muitas vezes entendidas pelos empresários. Não está mal pensado. O representante do INL, recém-chegado a este instituto, traz ideias novas ao INL tais como colocar os seus investigadores nas empresas para perceberem como podem integrar a sua tecnologia na tecnologia das empresas. É um passo no sentido certo, mas não serão dois mundos muito distantes? A nanotecnologia desenvolvida no INL será mais indicada para empresas intermédias, spin-offs, que após regurgitarem essa mesma tecnologia e a transformarem em algo que será minimamente próximo da nossa indústria, poderiam talvez ter mais êxito que este salto inter-galáctico entre estes dois mundos. No entanto, a atitude deste novo diretor do INL é muito positiva quando comparada com a anterior direção, na opinião de um atento observador. O colóquio terminou com um curto vídeo sobre a Tecminho que fez 25 anos e que foi no seu tempo a primeira interface Universidade-indústria, numa altura em que a UM tinha mais colaboração com o tecido industrial das pequenas e médias empresas do que as outras universidades. Quando apagarem as velas, façam um pedido: peçam que esse espírito empresarial da UM volte, porque parece-me que se tem vindo a esvanecer. Um exemplo dessa tendência que deve ser revertida, foi a saída do único parque de Ciência e Tecnologia da região ao qual presidia, o Avepark. Faço votos que também esta saída seja revertida no futuro, ou por via da mudança de iniciativas governamentais do anterior governo, que provocaram em grande parte a tomada pela Câmara de Guimarães do Avepark, ou usando um pouco a imaginação e a motivação de apoio ao empreendedorismo, que andam muito por baixo na UM nos últimos anos, não tanto na discussão do tema, como foi o caso, mas mais na atuação.

sábado, novembro 14, 2015

Atratividade do ensino superior em crise

Hoje uma notícia no jornal Público diz-nos que o ensino superior é menos atrativo para os jovens por o emprego estar a crescer mais, embora modestamente, para os jovens com o ensino secundário completo do que para os licenciados, citando um relatório da Comunidade Europeia(CE). Por outro lado, muitos jovens licenciados exercem empregos abaixo das suas qualificações. A CE não foge à regra com 25% de jovens nessa situação. Adianta este relatório algumas causas, sendo a das oportunidades de emprego a primeira, mas que o abandono escolar também é elevado, pelo que se conclui que os alunos chumbam muito, talvez por os cursos não serem interessantes ou relevantes para um mundo em mudança. No caso de Portugal, com o que se perdeu nos último 4 anos, em que a indústria não evoluiu, em que não houve uma re-industrialização do país, mas que pelo contrário, houve um reforço das empresas dos setores tradicionais de mão de obra barata, os têxteis e o calçado por via das exportações, as saídas para os licenciados para postos de relevo nestas ou noutras engenharias são muito pequenas. Mesmo aqueles que exercem nestas indústrias, recebem ordenados pouco acima do ordenado mínimo. É o País que não acompanha o ensino ou é o ensino que não acompanha a indústria? É um ciclo vicioso porque uma coisa precisa da outra. Se a indústria não existe, os curso para essa indústria não fazem sentido e se os cursos não existem, embora não seja tão linear, também não há incentivo para a indústria se estabelecer no país, nomeadamente por via do investimento estrangeiro. Qual a saída então? Há quem defenda que as start-ups serão a solução. Mas estas são uma gota no oceano. Poderão no entanto, quando têm origem nas universidades como spin-offs, ter um efeito catalisador dos cursos donde emanaram, por servirem de exemplo para os candidatos aos cursos de ensino superior. Estes cursos com atratividade, por sua vez, terão um efeito de incentivo para a formação de outras spin-offs e assim sucessivamente. Será um ciclo vicioso mas desta forma, com efeito positivo tanto no tecido industrial como nos cursos de ensino superior.

quinta-feira, janeiro 01, 2015

Um ano de I&D a começar com boas notícias para alguns

Inicia-se hoje mais um ano, o de 2015. Em 2014, ao cair do pano, houve um anúncio de verbas que centros de I&D classificados por excelentes ou excecionais irão receber. É pouco ainda, mas já é um bom começo para 2015. Os centros com Bom ou menos, não terão verbas relevantes ou mesmo nenhum investimento, sendo o sue futuro incerto. Se esses centros estão indignados, há outros que estão admirados, uma vez que nem todos os centros excelentes são de facto excelentes no que respeita a número de publicações e citações dessas publicações Só se entende essa classificação com a sua atividade mais relacionada com o mundo empresarial, nomeadamente em número de patentes e empresas spin-off que emanaram desses centros. Esta relação de facto transparece nos relatórios efetuados pelos avaliadores. Sejam quais foram as razões, não será no relatório do seu centro que encontrarão a explicação, uma vez que os relatórios tendem só a referir os aspetos bons, mesmo que não sejam suficientes para a sua aprovação. Ninguém gosta de pôr o dedo na ferida. Aconselha-se os centros que não foram bem classificados a lerem os relatórios dos que foram bem classificados, para poderem entender as razões pelas quais não foram também selecionados para uma segunda fase, o que garantiria a sua classificação pelo menos com Muito Bom. Também abriu o concurso para I&D em todos os domínios. Também se lê nas entrelinhas que a aplicabilidade dos resultados obtidos. Parece que finalmente se percebeu que ao I&D fundamental cresceu demasiado sem qualquer efeito no tecido empresarial português. Quem quer fazer I&D fundamental terá que o fazer com fundos comunitários, o que me parece razoável, uma vez que os resultados serão só absorvidos por grandes empresas europeias, uma vez que as nossas não têm capacidade, ou interesse, em o fazer.

terça-feira, outubro 07, 2014

Prós sem contras

No programa "prós e contras" de ontem, no Teatro Circo de Braga, tivemos a ocasião de ouvir dos vários intervenientes os prós de Braga e da UM em várias frentes, centrada nos jovens de Braga, e no sucesso da intervenção da UM na sociedade. Foram passando os minutos e os membros da "mesa", desde o Presidente da Câmara ao ex-secretário de Estado, agora responsável pela mais recente incubadora de empresas de Braga, a investBraga, falaram de uma realidade que dificilmente se pode imaginar como sendo aquela da cidade de Braga. O que é certo é que faltaram exemplos de todo esse dinamismo que foi referido, sendo que quase a única foi a Primavera que da plateia fez um relato que deve ter posto muita gente a dormir. Aliás,entre o enfado que as várias intervenções provocavam, ao enjôo de tantos elogios à cidade e à UM, faltou algum discernimento sobre a nossa realidade. Que a cidade é a mais jovem, refira-se como jovem o facto de ter a população mais jovem, é o que temos ouvido há mais de 20 anos. Será que ainda é? A emigração de jovens para a Suíça, França e Reino Unido, parte principalmente do norte do país e o distrito de Braga deve ser o epicentro dessa emigração. O norte do país deve ser a região do país com mais pobres. Tem talvez o maior desemprego. No entanto só o arcebispo referiu timidamente estes dados, não fosse destoar do otimismo e autoelogio de todos os outros presentes. Não se coibiu no entanto de regogizar-se com o trabalho que a igreja tem feito junto desses setores da população mais desfavorecida. A moderadora Fátima Campos Ferreira, parecia que dançava num mar de rosas, incentivando à enaltação por parte dos presentes dos feitos que fizeram para Braga ser a cidade que pintou quando da apresentação do programa. Não destoou em nada, não havendo lugar aos "contras" normalmente presente no seu programa. O reitor fez o que lhe competia, referindo a Universidade como uma "research University", e até pecou por ser parco nas palavras, não deixando no entanto de referir mais um ranking onde a UM figura à frente das outras universidades portuguesas. Não disse no entanto o óbvio, que os rankings são baseados em critérios que nem sempre são objetivos. O discurso de quase euforia teve um pequeno solavanco com a intervenção de José Mendes que se queixou que a região merecia receber mais investimento por parte do poder central, considerando ser uma região exportadora e que muito contribui para a riqueza do país por esta via. Esqueceu-se da auto-europa e da Galp, as maiores exportadoras, situadas perto de Lisboa. Ainda houve lugar ao protesto do reitor sobre o financiamento dos centros por parte da FCT não ter contemplado um centro de I&D que tem no seu seio um investigador que fez parte da equipa de um nobel da física, com trabalho na área do grafeno. António Murta fez o discurso de exaltação deste investigador. Quase que estávamos ombro a ombro com os prémio nobel com tal exaltação! Foi o ponto alto da noite. Foi uma noite surrealista em que Braga se elevou acima das nuvens, o que ao menos já é uma melhoria para Braga, habitualmente debaixo de nuvens.

quarta-feira, agosto 20, 2014

Mais cortes no orçamento do ensino superior

No período de férias, eis que surge mais uma noticia de cortes por parte da tutela, desta vez 1,5%. Muitas instituições não conseguirão compensar estes cortes gerando receitas que há uns anos propagandeavam que faziam através e projetos europeus e receitas próprias em projetos de I&D.
O melhor seria não declarar as receitas próprias para desse modo ir buscar mais financiamento? Nesse caso foi um erro a UM inflacionar as receitas próprias com orgulho há um par de anos atrás, reclamando que constituiriam mais de 50% do total daas receitas, incluindo por exemplo receitas de projetos europeus que provêm da cobrança de custos indiretos, como receitas próprias. É como um senhorio  receber rendas e ser considerado produtiva essa receita.
Noutra componente dos cortes, estão os seus professores e funcionários que voltarão a ter cortes, e os cortes nas bolsas e nos centros de investigação.
O Ensino Superior nunca foi tão atacado como agora. Terá que se defender, e se reinventar. Não basta fazer o mesmo que sempre tem feito, ensino e investigação. Tem que se ligar ao exterior, com aas empresas, e deixar que esta ligação não seja só um slogan mas uma realidade.

quinta-feira, junho 19, 2014

A insustentável alienação dos académicos

Ás vezes temos a sensação de que estamos mal onde estamos. Se vivêssemos noutra cidade estaríamos melhor; se vivêssemos noutro país melhor ainda. Se estivéssemos noutro emprego, e no nosso emprego mas noutra entidade, no meu caso universidade, se estivéssemos noutro tempo...
Dizem que é próprio do ser humano estar insatisfeito. Há no entanto uma boa percentagem que está bem onde está. Vem isto a propósito do último "post" que fiz sobre a permanência em certos lugares de topo da instituição de alguns colegas nossos, que perpetuam o seu lugar como se realmente estivessem no sítio certo e não encontrariam outro melhor, fosse noutra condição ou mesmo fora de todo o que fizeram até à data. Penso que lhes fazia bem, a eles e à instituição. Uma ótima experiência que aconselho, longe das burocracias e das guerras intestinas dos académicos é o empreendedorismo. Cruzamo-nos com gente de outras proveniências, empresários, quadros e técnicos de empresas, diretores e empregados de organismos públicos, e outros. Os académicos, têm a tendência de viver para dentro, enquanto os empresários e os que trabalham para/com eles vivem para fora, procuram clientes e colaboradores. Cruzam-se com todo o tipo de profissões, vivências e projetos que lhes dão uma visão mais real da vida. Essa é que é a realidade. Os académicos vivem do que observam à sua volta, no meio académico, e do que leem nas revistas da especialidade, nunca saindo muito daquele mundo restrito das conferências e papers. Mais parece um mundo dentro de outro mundo.
 O que faz falta, é tirar-lhes o tapete, para bem deles. Obriguem-nos a vir cá para fora, nem que seja uma vez por ano, passar um ano numa empresa, e aposto que vai haver uma lufada de ar fresco no ensino superior e que os que se agarram aos lugares vão querer largá-los ao perceber a insignificância desses lugares no mundo exterior.

sábado, fevereiro 08, 2014

Alunos fora e dentro

Os alunos são o nosso projeto na Universidade, tanto como a ciência. No entanto tratamos os alunos como se fossem material descartável. Vêm e vão. Se vingaram na vida ou não com o que lhes ensinámos, não queremos saber. Eles pensam mais em nós e nos tempos da Universidade do que nós neles. É assim e sempre será, e nós sabemo-lo porque também já fomos alunos e lembramo-nos dos nossos professores, mas eles não se lembram de nós. Mas acontece que quando vemos os nossos ex-alunos em lugares de destaque, nas empresas ou em instituições públicas, sentimos um orgulho que talvez não merecemos sentir, porque se calhar eles estão nesses lugares mais pelo que demonstraram ser capazes lá fora do que demonstraram cá dentro. É por isso contraproducente marginalizar alunos que à partida são pouco trabalhadores ou que têm atitudes que são entendidas como de desinteresse pela matéria que tanto trabalho dá ao professor transmitir!
Também tenho deparado com alunos na indústria que me surpreendem pela forma como ainda tratam o Professor como se estivessem na Universidade a discutir um projeto, isto passados mais de 20 anos da sua formatura. É deveras interessante estar ao mesmo tempo numa discussão de um "projeto" mas na qualidade agora de colega de um ex-aluno. Acontece a alguns de nós mais ligados ao exterior, por força de sermos engenheiros, e é aqui que a Universidade do Minho faz a diferença pois está rodeada de empresas que empregam os nossos alunos e que, através deles ou não, têm projetos com a UM ou com as interfaces da UM com o exterior. Quando dizem que o ensino é para toda a vida, é assim que ele o é, e a meu ver nunca o será pela forma como o querem fazer, com aulas pós-laborais, pois os alunos dessas idades não estão para serem tratados da mesma forma do que quando tinha 20 e poucos anos. Muitos dos seus professores no entanto muitas vezes não compreendem isso. Há uma forma diferente de ensinar estes alunos, mas continuo a dizer que a aprendizagem, é sempre mais fácil no seu local de trabalho, através de diálogos entre pares, aluno e professor, do que intramuros na UM, sujeito a uma cartilha desadequada para este tipo de aluno. Sinto que há um esforço ainda muito grande a fazer para se ajustar o ensino nos cursos pós-laborais para fazermos justiça ao enorme esforço que muitos destes alunos fazem para conciliar a sua vida profissional com a frequência de cursos de ensino superior.

sábado, agosto 31, 2013

Empreendedorismo: aviso à navegação

O empreendedorismo é das apostas mais recentes das universidades e a Universidade do Minho em Portugal é pioneira nesta area. O progresso do empreendedorismo não acompanha no entanto o marketing do empreendedorismo; Há disciplinas de empreendedorismo em cursos de gestão e de economia, há workshops, eventos variados alguns com pretensos gurus, e há a promoção dessa ideia que pretende lançar a imagem de pessoas e instituições a seu reboque. No entanto quando alguém da universidade se aventura no empreendedorismo com um empresa spin-off, há um vazio no que concerne ao apoio da sua empresa, naquilo que a Universidade deveria de apoiar que será a defesa da tecnologia que a em que a spin-off se baseia, no caso de spin-offs de base tecnológica. Um professor que se aventure nessa senda, poderá ser ultrapassado por outros que para ele trabalharam como bolseiros, e que mesmo assinando um acordo de confidencialidade terão o caminho livre para utilizar essa tecnologia ou a entregar a outros sem que a universidade ou a spin-off tenha algum proveito dessa atitude leviana e provavelmente criminosa, no sentido de ter infringido um acordo legal, da pessoa que o faz. Infelizmente já existem casos recente que o provam. Não será altura das universidades se profissionalizarem com um gabinete jurídico dedicado a estes assuntos em particular, com juristas especializados nestas matérias do direito à propriedade intelectual e industrial? No caso da UM já constatei que existe ainda uma inocência por parte de professores que não dominando a componente empresarial, põem-se nas mãos de supostos empreendedores profissionais, que mais não querem que lhes sacar a tecnologia e daí tirar proveito para si próprios e seus correligionários. Ao contrário do que muitos destes professores pensam, um pedido de patente não e suficiente para proteger os seus interesses. Há toda uma negociação com esses empreendedores profissionais, que se munem de acordos parassociais que "entalam" os inventores/professores de tal forma que eles não podem mais tarde atuar para proteger os seus interesses. Se não houver uma subcontratação à universidade por parte de uma empresa, e aqui é preciso ter cuidado com os empreendedores profissionais oportunista que através de esquemas de programas QREN Vale I&DT se apoderam das tecnologias de professores incautos,  a patente pertence à universidade. É preciso também que se perceba que os direitos da patente são negociados pela universidade com empresas sem interferência do inventor, salvaguardando o direito de opção da de empresas spin-off, se existirem. A universidade de facto concede ao inventor/es as royalties mas é preciso ter em conta se a empresa não as paga, de nada serve; ou se a universidade vende por um baixo preço a patente, também não compensa ao inventor/inventores a sua venda. A meu ver o inventor/es deveria fazer parte da negociação com eventuais interessados, caso o inventor não queira avançar com a sua própria empresa e queira vender a patente. Fica aqui a sugestão.
Dito isto, não há dúvida que o empreendedorismo dá à universidade uma imagem positiva de se encontrar ligada ao mundo exterior e de contribuir para a inovação do país, fugindo um pouco daquela imagem de ser uma produtora de artigos e comunicações científicas que o comum do  cidadão não alcança  o sentido da sua utilidade. Também por isso a Universidade deve se esforçar mais e proteger mais aqueles que contribuem para esta imagem.

domingo, agosto 04, 2013

O mérito a quem o merece: colaboração com a indúsria e spin-offs da UM

A UM é das Universidades portuguesas a que mais contribui para o tecido industrial do País, Quem o afirma é a Reitoria e a vice-reitoria, conforme veio publicado no Público hoje e no Correio e no Diário do Minho ontem. No Publico dá-se como principal exemplo a empresa DST e referem-se alguns exemplos de novidades em empresas têxteis, transferidas pela Universidade, como por exemplo um fato de bombeiro que transmite sinais de perigo pro intermédio de sensores. Há no entanto dois exemplos que figuram no artigo do público que não tiveram origem na Universidade, sendo um do CeNTI -Centro de Nanotecnologias de Famalicão e outro na TMG automotive também há dúvidas se originou na UM. Com tantos exemplos de projetos e empresas bem sucedidas com origem na UM, não precisavam os repórteres de andar à pesca de projetos e empresas. Há a Impetus, empresa de prestígio de "underwear" que desenvolveu uma solução para incontinentes; há a Locatoni que fabrica equipamento de desporto para a equipa do Guimarães com propriedades de dry-release, mantendo o corpo seco; há a Endutex que produz revestimentos para outdoors e outras aplicações que inovou em alguns destes produtos em parceria com a UM. Quanto a empresas, não foram mencionadas spin-offs da UM, que embora não faturem tanto como a DST, são no entanto fruto do empreendedorismo de investigadores da UM. Não como a DST que já existia muito antes, sendo um negócio de família, não obstante com todo o mérito que merece um dos seus filhos por se ter formado na UM e ter uma visão de expansão correta, colaborando com a UM e alavancando a imagem da sua empresa desta forma.
A primeira spin-off de base Tecnológica da UM foi a Micropolis, fundada em 2001, agora Devan-Micropolis por ter sido vendida a uma empresa belga /(Devan), mas que continua a laborar em Portugal, no TecMaia, comercializando um produto inovador de acabamento funcional que garante uma temperatura constante de conforto junto ao corpo. Na venda a Universidade vendeu a patente que suportava a tecnologia, sendo a primeira transação do género efetuada pela UM. Foi um caso de sucesso em empreendedorismo com a empresa de capitais de risco, a PME Capital, a vender a sua participação, largamente maioritária, com lucro.
Há uma lista de spin-offs no site da Tecminho que vale a pena visitar para constatar que a vocação dos empreendedores da UM continua, com um número apreciável de spin-offs formadas nos últimos anos que procuram transformar o tecido empresenrial e industrial do Minho com uma maioria de empresas têxteis, metalomecânicas e de construção civil em empresas biotecnologia, química verde, materiais, software (onde a UM já tem tradição em empresas como a Primavera fundadas por ex-alunos), eletrónica, entre outras.
São estes os exemplos que nos devemos orgulhar, totalmente nascidos na UM !

terça-feira, abril 16, 2013

A escrita inteligente

Escrever com escrita inteligente como é o caso deste post, tem as suas vantagens por acabar o que começamos e de corrigir automaticamente o que escrevemos. No entanto tornamo-nos preguiçosos e descuidados com o que escrevemos. Não sendo uma ferramenta de ensino, não se aprende nada com ela. Faz-me lembrar algum do ensino que se faz por cá. A internet serve como a escrita inteligente nos trabalhos que muitos alunos apresentam e muito professores (não ) corrigem. Escreve-se uma palavra chave e já está: o texto aparece-nos à nossa frente para completar a nossa palavra chave e daí  a aparecer um texto completo, que depois e uma questão de fazer um rearranjo para não ser detetado ou uma tradução caso seja em português, e também assim evitar a detecção de plágio.
Vivemos num mundo de facilitismos e quando as coisas se complicam não temos como fazer face a elas. Por isso aqueles que aparentam ser os melhores alunos, no mundo real não são os melhores profissionais. Sempre disse isso aos alunos e não será necessário dize-lo lá fora no mundo empresarial porque os empresários já conhecem esta realidade. Mas a culpa não e dos bons alunos, mas sim dos pais, que querem mostrar os êxitos dos filhos como sendo os seus, como se de trofeus se tratassem. Há excepções em alguma profissões mais cientificas, como médicos, biólogos, físicos, etc. Mas quando tanto se fala de empreendedorismo, esquecem-se que o melhor empreendedor será o que tem menos currículo por não ter os argumentos que um bom aluno com uma boa nota tem, para se acomodar num emprego estável e com futuro. Pelo menos era assim antes, porque agora têm que ser quase todos empreendedores porque empregos estáveis não há e com futuro...bem, só se o governo e a troika se forem embora antes que acabem com o futuro deste pais. E assim foi a primeira experiência da escrita inteligente...ou pouco inteligente, depende da perspectiva. O acordo ortográfico também não faz ainda parte desta escrita inteligente talvez para disfarçar a falta de acentos nos as e és, ou talvez seja um snob da escrita que o impingiu ao Steve Jobs  ou ao sósia que o substituiu. E já chega de escrita "inteligente" porque essa e para gente preguiçosa, e assim acabo por onde comecei.

domingo, junho 12, 2011

Como ligar o ensino às exportações?

Ouvimos os políticos em geral a enaltecer as indústrias exportadoras como sendo o motor da Economia. Se virmos o panorama nas Universidades Portuguesas, o que vemos é que os cursos mais populares não estão ligados a indústrias exportadoras, embora se possa argumentar que os cursos de banda larga, tais como os cursos de gestão, sejam para todas as áreas incluindo a indústria. Cursos de biologia, engenharia biológica, engenharia biomédica, cursos de alguma forma conotados com as ciências da vida, muito procurados por alunos que sentem vocação ou foram incentivados pelos vários programas de Ciência Viva, verdadeiro sorvedouro de dinheiros públicos, nem sequer estão conotados com a indústria quanto mais a indústria exportadora. Um dos cursos de engenharia mais populares é o curso de Engenharia Civil. No entanto não é uma indústria exportadora, a não ser se considerarmos exportar engenheiros como fazendo parte das estatísticas de exportação.
De tempos a tempos também ouvimos alguns políticos ou jornalistas a criticarem o facto da Universidade e a indústria andarem de costas voltadas. São só palavras de circunstância porque uma política séria de planeamento do Ensino Superior no que respeita às Ciências e à Engenharia implicaria um planeamento desde o 1º ciclo, passando pelo secundário e não uma análise só da Universidade. Quando entram na Universidade já é tarde para os jovens, pois já fizeram a sua escolha. Mostrar aos jovens do ciclo e do secundário as empresas e o seu potencial existente (e o ainda não-existente), não fazê-los sonhar só com coisas interessantes divulgadas nos programas de divulgação da ciência como os pequenos truques que se fazem com a física ou a química e biologia, que não vão contribuir para o seu futuro, seria a meu ver mais útil ao futuro dos jovens. Seria mais útil que os jovens ouvissem empresários bem sucedidos de empresas do que professores universitários que nunca puseram os pés numa empresa, a apregoarem os seus cursos como sendo os melhores. Afinal os jovens de hoje não vão trabalhar nas Universidades mas nas empresas! Parece que é um País fascinado pelo ensino e esquecido do mundo real. Quando os alunos finalmente entram num desses cursos com que sonharam ouvem mais do mesmo só que mais sofisticado e mais desenvolvido. No fim do curso, podem ficar saciados de tanta ciência, mas ficam desprovidos de qualquer experiência que lhes permita entrar no mundo empresarial. Poderiam ser professores se não houvesse o desemprego que já existe e existirá durante anos neste sector. Muitos continuam com o sonho, enveredando pela via da investigação que é só um adiamento do inevitável, num País que não tem lugar para doutorados nas suas empresas.
O próprio sistema de ensino está artificialmente empolado, com programas doutorais em engenharia que não servem para as empresas, porque os alunos debruçam-se sobre um assunto muito específico. Mais parece que não há qualquer estratégia nas Universidades a não ser alimentar os alunos com cursos de 2º e 3º ciclo para que não fiquem no desemprego logo após a licenciatura, e ao mesmo tempo garantir que a Universidade não perca alunos, nem que isso signifique baixar o nível.
É certo que já não há um caminho direto para o emprego via ensino superior. Acabaram com os Politécnicos e transformaram-nos em Universidades tornando esta via mais difícil. A Escola Tecnológica não responde á necessidade que as empresas têm para inovarem e darem o salto tecnológico, sendo mais uma forma de fornecer as empresas com mão-de-obra qualificada que o é mas não o suficiente. O mais dramático é que mesmo muitos destes não ingressam nas empresas portuguesas preferindo emigrar. Que fazer?
Com um governo maioritário há uma oportunidade para fazer uma reestruturação geral do ensino de ciências e engenharia e pô-lo ao serviço das indústrias exportadoras. Mas fazê-lo implica mexer em muitos interesses instalados e isso já se provou com o anterior governo que é muito impopular. Resta-nos continuar a esperar que haja bom senso por parte dos pais e alunos na escolha do cursos e por parte dos professores que pensem mais no futuro dos alunos do que no seu próprio futuro.

sábado, fevereiro 19, 2011

Spin-offs ou show-offs?

Na cerimónia do dia da UM, na qual não particiei, por razões que não consigo explicar (desinteresse, desenquadramento, falta de paciência para "show-off", incómodo de estar sentado por mais de duas horas em cadeiras pouco confortáveis?), soube que a oração de sapiência incidiu sobre o tema da inovação, empreendedorismo e principalmente spin-offs. Na realidade, antes de ler o conteúdo da mesma, fiquei a pensar que finalmente a instituição iria enveredar por um apoio à formação e sobrevivência nos primeiros tempos de spin-offs, através de uma apologia por parte da oradora nesse sentido. Puro engano. Ao ler a apresentação, constatei uma vez mais que se fala muito e pouco se faz neste sentido. O historial e a análise da situação actual de spin-offs será um estudo interessante, mas académico. Talvez sirva para dar umas aulas sobre o assunto. Mas em que ajuda aos académicos que pretendem enveredar por essa via? Quais os apoios? Nem o novo estatuto das Universidades, o RJIES, nem o novo ECDU, nem o regulamento da própria UM ou das suas Escolas ou interfaces, encorajam a formação de spin-offs. No entanto discursa-se como se de facto houvesse qualquer intenção de mudar este estado de inércia institucional. No caso do RJIES, permite-se por exemplo que um docente, por um determinado período de tempo, em vez de leccionar se dedique a outras actividades, nomeadamente à investigação, desde que tenha a autorização institucional, mas no entanto não incentiva no sentido específico de formação de spin-offs, nem com condições financeiras, como o faz por exemplo aos directores de Unidades Orgânicas e mesmo de sub-unidades, nem com outras. Podia por exemplo atribuir o estatuto a um docente que pretendesse enveredar por esse caminho, equivalente a de um director de uma sub-unidade, com autoridade para escolher outros membros do sua sub-unidade orgânica para o acompanharem nesse empreendimento. O ECDU também não ajuda, valorizando mais as comunicações e os artigos científicos do que este tipo de actividade. Pelo contrário, impede que por exemplo o docente acumule vencimentos de eventuais salários na spin-off com o seu salário da Universidade, e mais ainda impede trabalho mesmo que não seja remunerado, como sendo por exemplo a gerência da spin-off, por via da cláusula da exclusividade. O regulamento da UM também não adianta nada ao RJIES nesta área e podia tê-lo feito.
Agora que o reitor propõe a mudança para o regime fundacional, ele e os seus defensores apresentam argumentos como a maior autonomia financeira e com a maior captação de fundos, através de empréstimos e venda de património. Mas nem uma palavra para o empreendedorismo e criação de spin-offs, e muito menos de apoios financeiros nesse sentido. Para quê então captar essa verba inicial se não é para permitir algo diferenciador? Se é para gastar no habitual como seja mais contratações, mais obras, mais show-off, então é melhor não gastarem energias (as deles e as dos opositores ao regime fundacional), nem esgotarem a paciência de quem já viu este show-off demasiadas vezes!

domingo, setembro 26, 2010

Fundação Lloyd Braga- que papel deve ter?

Muito se tem dito do que o empreendedorismo é ou deve ser nas instituições de ensino superior. Tal como as patentes e os prémios recebidos pelos professores nesta ou naquela conferência, serve como marketing da instituição. Quando mais tarde outros se referem à Universidade do Minho, dizem que tem um dinamismo muito grande pois tem inúmeras patentes, empresas spin-off, prémios em várias áreas. Mas quando se pensa no professor que está por detrás de tais feitos, com algumas excepções daqueles que se põem em bicos de pés, não se sabe quem são e se foram posteriormente apoiados nas ideias que tiveram que deram origem a estes "notáveis"feitos. Nesse aspecto a Universidade assemelha-se muito às multinacionais, onde todos são anónimos, mas ao menos as multinacionais têm resultados práticos porque apostam forte nas novas ideias e têm financiamento para as levar por diante. As Universidades bem se podem queixar de não o terem. Mas se o tivessem, investiriam por exemplo nas spin-off como o fazem Universidades estrangeiras, como no Reino Unido a de Cambridge e a de Leeds, para mencionar duas que conheço? Não sei se o fariam ou se alguma o faz. Temos o exemplo da UM que investe em vários organismos que supostamente deviam ser activas no empreendedorismo, como a Fundação Lloyd Braga, participada a 100% pela Universidade e não o fazem. Para que serve esta Fundação? A Tecminho faz o seu papel de interface, mas como a designação "interface" indica, o seu objectivo não é o de participar em empresas, sendo ela própria "uma espécie" de spin-off de serviços da UM. Resta portanto a Fundação, entidade que noutras Universidades serve precisamente para isso, participar em empresas spin-off da UM. Fica aqui a sugestão.

sábado, junho 05, 2010

O apoio ao empreendedorismo e o capital de risco: As Universidades são ouvidas?

Numa altura que muito se fala do empreendedorismo universitário, tem a UM uma novamente uma oportunidade histórica de se evidenciar nesta área. A UM foi das primeiras a fazê-lo nos anos 80 com empresas de informática e através da Tecminho nos anos 90, impulsionados por programas na altura pioneiros na UM, como o "Smart Tulip" da responsabilidade de Avelino Pinto com o apoio vice-reitor do pelouro na altura, Manuel Mota. Entretanto criou-se o Spin-Park, também muito pelo empenho dos mesmos, empresa capital semente com capitais de várias empresas Públicas entre elas a UM, inserida no AvePark, um parque de C&T especialmente concebido para a instalação deste tipo de empresa. Mas para além desta fase inicial (semente), tardam a aparecer as empresas spin-off da UM na fase já de lançamento comercial. Qual a razão ou razões? A meu ver há uma responsabilidade das empresas de capital de risco em todo este processo "pós-semente" de lançamento de empresas spin-off, que não está a ser cumprido, nomeadamente por aquelas que têm como investidores o Estado, directamente ou por intermédio das empresas públicas e organismos públicos, que é o caso da Inov-capital, com sede no Porto. Se formos ver, o capital investido por esta entidade nos últimos anos em empresas spin-off é mínimo e então em empresas oriundas da UM é ínsignificante, considerando o seu capital social. Este tipo de organismos investem muitas vezes em empresas já maduras que supostamente terão menos risco. Mas para isso existem os bancos. Mesmo assim o investimente em grandes empresas não tem sido muito profícuo nos últimos tempos (veja-se o caso da Aerosoles). Porquê então este comportamento? Lançam-se planos de incentivo às empresas spin-off, do tipo do Finicia, e vai-se ver e nem uma empresa spin-off da UM consta da lista de apoio deste programa no que refere ao capital de risco.
Os empreendedores desesperam pois investem do seu tempo e dinheiro e as empresas de capital de risco, fundadas pelos sucessivos governos, só mudam nos administradores que mudam consoante a sua cor política, o que também não deve ajudar muito ao bom funcionamento da instituição. A meu ver quem devia mudar regularmente seriam os técnicos que trabalham nestas instituições, porque são eles muitas vezes que decidem sobre o futuro das empresas participadas, e o poder de decisão está muitas vezes nas suas mãos e não com os administradores. É demasiado poder para técnicos assalariados por demasiado tempo! Este tipo de capital de risco, não sendo capital dos próprios, como no caso de "business angels", não tem consequência de maior para quem decide, ao invés dos casos em que são investidores particulares, sejam "business angels" ou familiares ou amigos dos empreendedores, a investir no negócio.
Uma forma de de incentivar o empreendedorismo das Universidades (e Politécnicos)seria através da participação das Universidades na administração das empresas de capitais de risco com capitais públicos. Dessa forma ao menos haveria, em teoria, mais sensibilidade para o investimento em empresas spin-off oriundas de Universidades do que há de momento.
A Universidade do Minho, pioneira no empreendedorismo, se conseguiu pela mão do actual reitor, através de "lobbying", cativar o Ministro da Ciência para inserir a UM no roteiro do programa MIT, também conseguirá influenciar o Ministro para esta problemática das capitais de risco. Mesmo não fazendo parte da sua tutela, se realmente o quisesse, o Ministro puxaria pelos galões e exigiria que de futuro as empresas de capital de risco com capitais públicos servissem mais o empreendedorismo proveniente do ensino superior e menos as grandes empresas já lançadas no mercado.

domingo, setembro 06, 2009

O empreendedorismo da UM e a publicidade dada pelo Diário do Minho

A julgar pelos investimentos que a UM tem feito nos últimos anos (ver post anterior) deviamos ser uma das Universidades com mais empreendedores, empresas spin-offs, ou empresários por conta própria bem sucedidos. Sem contar com as empresas de Serviços, que não são bem empresas independentes da UM mas mais propriamente empresas que utilizam as estruturas universitárias muito para além do período de incubação, as empresas registadas como spin-offs contam-se pelos dedos de uma mão.
Quais as razões? Muitas vezes se justifica esta falta de empreendedores como sendo culpa da mentalidade conservadora dos licenciados, o que não deixa de ter algum fundamento. Senão, vejamos: quem vai para a Universidade vai porque quer tirar um curso, como é óbvio. Mas a pergunta seguinte será: para quê? e a resposta não será a politicamente correcta de querer aprender, mas antes que com um "canudo" terá mais hipóteses de ter um emprego e não será qualquer emprego, na mente da maioria, mas antes um emprego com um ordenado razoável e principalmente com estabilidade. Ora aqui está o busílis da questão: um empreendedor nunca deve pensar na estabilidade! É contrária á própria ideia de empreendedorismo. Não é por acaso que as empresas mais bem sucedidas nas Novas Tecnologias foram fundadas por estudantes que deixaram a Universidade a meio do curso: Microsoft e Google para mencionar apenas duas.
Haverá muitos outros casos que não terão sido assim, mas foram formadas por licenciados (seria interessante saber se estes licenciados eram alunos exemplares ou simplesmente acabaram o curso...)ou mesmo por professores, mas a excepção parece confirmar a regra. Em qualquer entrevista a estes empreendedores, normalmente o que eles dizem é que já não tinham muito mais a prender e a Universidade não lhes ia ensinar nada de novo. Claro que por esta altura eles já tinham uma ideias do que poderiam desenvolver no mundo empresarial. No entanto não deixa de reflectir no tipo de ensino que se faz nas Universidades.
Claro que não tendo a performance das Universidades Americanas, o cenário será pior nas Universidades na Europa e em particular em Portugal. A cultura na Universidade Portuguesa também não incentiva em nada o ensino para o empreendedorismo. Em primeiro lugar os Professores estão eles próprios preocupados com a sua estabilidade e não têm uma postura de empreendedorismo na sua própria carreira. Dão aulas, fazem alguma investigação e alguns fazem alguma gestão nos vários órgãos e sub-orgão da Universidade.
Podemos portanto até aceitar que a UM faça um esforço de investimento em empresas ou Associações viradas para o empreendedorismo, tais como o 2B Partner e o SpinPark. Não será essa o maior “pecado” do reitor AGR, mas antes o de não ter envolvido outros colegas de participarem neste esforço, talvez como já foi referido, por ter uma política de concentrar em apenas numa ou duas pessoas da sua confiança a tarefa de representar a UM nos órgão de Administração dessas empresas e Associações. A culpa também não pode ser atribuída quase exclusivamente a quem aceitou essa incumbência, como quis fazer querer o jornalista do DM. Numa empresa ou Instituição, quem é nomeado não pode facilmente recusar, especialmente se é o Vice-Reitor com esse pelouro, que é o caso de Manuel Mota. É estranho o artigo em que aparece como grande culpado M.M. É caso para perguntar a quem interessa. O incentivo que M.M. tem dado ao empreendedorismo só tem que ser elogiado, mas já a fobia do reitor de não abrir o leque a outros, isso sim, já tem que ser condenado.
Esta forma de governar pela Reitoria, não é nova. Vem detrás, de outras Reitorias e o resultado está á vista. O empreendedorismo dos próprios docentes está moribundo, dando lugar a um seguidismo que torna o ambiente escolástico e amorfo, com o contágio inevitável aos alunos, que eles próprios ficam sem entusiasmo e sem “rasgo”.
Assim, só com um nova política em que muitos mais colegas estão envolvidos se pode espalhar a cultura do empreendedorismo. Esperemos que o futuro reitor tenha percebido que este não é o caminho e que delegue e distribua por muitos mais colegas essa tarefa nobre do empreendedorismo!