segunda-feira, dezembro 26, 2016

NDNR- Novos Desafios Novos Rumos

Terminou o blogue NDNR-Novos Desafios Novos Rumos, informação no próprio blogue que dá como justificação o fim de um projeto que se iniciou com uma lista com o mesmo nome para as eleições do Conselho Geral em 2008. Pela mão de José Cadima, tiveram os leitores ocasião de seguir as notícias mais relevantes sobre a Educação e o Ensino Superior, prestando o blogue uma ajuda preciosa num mundo académico que de uma forma geral está esvaziado de iniciativas semelhantes, desde que o RJIES, regulamento que entrou em funcionamento na mesma altura que apareceu o NDNR, regulamentou todo o processo de eleição e funcionamento do ensino superior. Aquilo que na altura parecia que era uma oportunidade para a academia, veio, na minha opinião, acabar por se revelar ainda menos democrático e irrelevante que o que existia até então. O que até então era uma eleição direta para reitor, foi substituída por um colégio eleitoral, o Conselho geral. Para as unidade orgânicas, o processo de eleição do Presidente de Escola, até então direta, também se tornou uma cópia da eleição do reitor, cabendo ao Conselho de Escola a sua eleição. Na altura, muitos de nós se iludiram com este novo regulamento e processo de eleição e governo, e participaram ativamente no processo eleitoral. Não obstante, o blogue NDNR foi um exemplo de resiliência num ambiente indiferente, ou mesmo hostil por vezes, ao debate interno sobre a academia. Por essa razão, compreendendo as razões por detrás do seu encerramento, devemos lamentar o seu fim. Esperemos que outros blogues o venham substituir nesta missão imprescindível para a Academia no novo ano que se aproxima. Um bom Ano de 2017, cheio de alegria e prosperidade!

domingo, dezembro 18, 2016

Fontes legítimas de I&D e a sua proteção

Num programa da RTP1, "sexta às 9", um programa que procura e denuncia várias situações problemáticas e atitudes abusivas, emitiu um episódio há umas duas ou 3 semana atrás, sobre as bactérias nos hospitais. É um programa que nem sempre tem o cuidado de fazer o trabalho prévio de assegurar a legitimidade das suas fontes. Apercebi-me desse facto ao ver no programa sobre o problema de bactérias em hospitais causadores de infeções muitas vezes fatais, como informação lateral ao problema discutida por especialistas de renome, médicos principalmente, uma investigação efetuada na UM por mim e a minha equipa na altura, em que se obtiveram resultados interessantes com um antomicrobiano inserido em nanopartículas de sílica. No entanto, a tecnologia foi apresentada por um auto-denominado investigador, em nome de uma empresa de Barcelos onde trabalha, a Smart Inovation. Este investigador só integrou mais tarde a equipa, não se coibindo no entanto de se apropriar da tecnologia dos antimicrobianos desenvolvida por outros antes dele, para a transferir para a empresa onde trabalha. Este tipo de abuso é recorrente com este investigador, com outras tecnologias derivadas, como nanopartículas de sílica com repelentes de mosquitos, desenvolvidas pela mesma equipa na UM mas já com a sua participação, divulgando-as também como tendo sido desenvolvidas na sua empresa. Nestes casos, em que a Universidade não se protege da usurpação do seu património intelectual, os professores e os investigadores honestos da sua equipa podem ver o seu trabalho furtado por qualquer investigador menos honesto, principalmente se aliciado por uma empresa a fazê-lo. O professor pode ainda tentar proteger a tecnologia que desenvolveu na Universidade com um acordo de confidencialidade, o que será inútil porque não é um documento oficial da UM. Mesmo acordos de confidencialidade oficiais inseridos, por exemplo, em contratos de bolseiro são pouco eficazes se a Universidade não atuar defendendo esse mesmo acordo. A Universidade não protege a investigação efetuada entremuros, por não ter um gabinete de proteção da propriedade intelectual dos seus professores. Existe um gabinete de patentes, mas se a tecnologia não é patenteada, o que ocorre na maioria dos casos, não há qualquer proteção, não havendo um gabinete jurídico que atue nestes casos. Por outro lado e mesmo que se registe patente, a UM só aceita registá-la se houver uma empresa que assuma os custos, mesmo que seja uma empresa spin-off constituída pelos inventores. É uma situação confortável para a Universidade, não assumindo os custos mas auferindo das royalties ou da venda da patente. Em contrapartida os inventores da spin-off têm que custear as despesas de registo, ficando-se muitas vezes pela patente nacional por a patente internacional ter custos incomportáveis para uma empresa start-up/spin-off no início de atividade. A UM também não se responsabiliza pela proteção da tecnologia, seja patenteada ou não. Casos como o relatado, voltarão a ocorrer no futuro se a situação não se inverter, furtando à UM o que a ela pertence por lei, e aos investigadores o que a eles pertence como parte do seu currículo e da sua propriedade intelectual (direitos de autor).

domingo, dezembro 11, 2016

A Universidade Pública em perigo na UM?

Finalmente o sindicato, neste caso a FENPROF, pronuncia-se sobre a alteração do estatuto de Universidades para Fundações de direito privado. Argumenta que o Ministro era defensor da Fundação quando secretário de Estado e esteve na origem desta forma estranha e hibrida de governar as Universidades. Por isso agora como ministro incentiva essa mudança por parte das Universidades que tenham as condições para o fazer. João Cunha e Serra da FENPROF argumenta que as Universidades não podem fugir da contabilidade pública, apenas conseguindo "mexer" no imobiliário, que foi o que fez o ISCTE com negócios pouco claros no que respeita à função duma Universidade, tais como a compra de um hotel. Já aqui neste espaço foi alertada esta vertente das Fundações (último post, Universidade Aberta?) em relação ao que pode acontecer com a UM, não servindo a Fundação para muito mais do que enveredar pela especulação imobiliária. Numa cidade como Braga, conhecida pelos escândalos nesta área, esta possibilidade que agora se abre à Universidade é preocupante para a tranquilidade do ensino público. Há sinais que será uma realidade em breve, havendo muito por onde escolher: para venda, o edifício do Castelo no centro da cidade, pertencente à UM. Para obras, talvez aquelas que estão planeadas na Quinta dos Peões, que terão como cliente a Universidade (Associação dos estudantes, sala de Conferências, etc). Os milhões prometidos às instituições que passaram a Fundações, argumenta João Cunha e Serra, nunca foram transferidos. Não houve benefício para essas Universidades. Por isso não se pode argumentar que é essa a razão da passagem a Fundação. Defende João Cunha e Serra que o Conselho de Curadores, que efetivamente é quem tem a última palavra sobre a estratégia da Universidade, não defenderá o interesse público, dada a sua composição por personalidades externas à Universidade, algo que também já referi no post anterior (Universidade Aberta?). Ainda há tempo para a Academia se pronunciar sobre o caminho que já está definido e que vai a votos no Conselho Geral esta semana, aparentemente amanhã, dia 12. Fazendo com que um novo Conselho Geral com uma outra visão sobre a Universidade pública seja eleito nas próximas eleições, será um caminho possível. Será difícil motivar professores, como sempre, por diversas razões, algumas também afloradas no último post, mas com o risco que todos correm com a contratação de professores fora do Quadro que concorrem com os que cá estão, com a possibilidade de nomeações ad-hoc para os mais diversos serviços de que dependem os professores, privatizando-os efetivamente, deveria ser suficiente para motivar os professores a defenderem nomeadamente os seus direitos consagrados no ECDU, sem a concorrência de regras de contratação sem restrições que o regime Fundacional permite, e recusar um modelo híbrido público-privado que não se conhece ainda os seus contornos, mas que á partida já se sabe que em nada os beneficiará. Aliás, a Fundação vai em frente sem uma auscultação à Academia, o que devia preocupar os professores. A eleição de um Conselho Geral que defenda a Universidade Pública pode ser um primeiro passo de retrocesso neste processo aparentemente imparável de mutação do público para o privado. O atual reitor sempre fez campanha pela Fundação conseguindo o que queria. Outro reitor poderá inverter essa tendência desde que tenha a apoiá-lo um Conselho Geral que também defenda a Universidade Pública. Nunca é demais dizê-lo: Universidade Pública ! Isso é o que somos e queremos continuar a sê-lo, sem outros objetivos, sejam imobiliários ou outros, que não seja a defesa do Ensino Público.

domingo, novembro 27, 2016

Universidade Aberta?

Informa o Conselho Geral que vai apreciar (e votar?) no dia 12 de Dezembro a proposta de Estatutos da UM, que vem na sequência da passagem a Fundação, e que já foi analisada em 21 de Dezembro e que serão consideradas em reunião da "Comissão Especializada de Governação e Assuntos Institucionais" em 6 de Dezembro para voltar de novo ao Conselho Geral. É caso para dizer, se já houve debate e sugestões, porque não publicitam o que foi discutido em Conselho? Afinal já tivemos reuniões abertas do Conselho Geral e transmitidas na rede UM, de outras reuniões que não teriam a relevância desta. A passagem a Fundação, embora da competência do reitor e Conselho Geral, não poderá ficar nas mãos de meia dúzias de sábios, sem auscultação da Academia, ou poderá? Ficará sempre a ideia que foi tudo negociado em segredo e de acordo com a maioria vigente, afeta à reitoria também vigente e em final de mandato. Uma passagem a Fundação deveria pelo menos ter obrigatoriedade de votação com maioria absoluta, para evitar que fique de acordo com uma maioria simples que amanhã pode ser uma minoria. Quaisquer estatutos só passam com maioria absoluta. Nem isso a Academia sabe se vigorará ou não. Para que servem comunicados deste género do Conselho Geral em que nada se diz exceto sobre a data e agenda da próxima reunião? Talvez para nos dar a sensação que está tudo a correr de uma forma democrática. Mas sem informação não há democracia. A Fundação dá uma liberdade aos governantes da UM que até agora nunca tiveram no regime de instituição pública com regras iguais a outras instituições públicas. Podem fazer do dinheiro o que muito bem entendem, sem restrições de maior, a não ser uma filtragem de curadores que também são membros externos à Universidade e não pertencem a instituições públicas, por isso podem decidir a seu belo prazer, numa ótica de mercado. Nem sequer são Académicos, sendo personagens do mundo empresarial ou político. Pode não haver nada de diferente por uma questão de bom senso dos nossos governantes universitários, mas pode também haver um reitor ou Conselho Geral, ou ambos, uma vez que o reitor é eleito pela maioria do Conselho geral, que decidam pôr-se a inventar e desatar a contratar gente a mais, sem concursos, portanto permeáveis a cumplicidade, como o fizeram nos hospitais público de gestão privada, os partidos políticos vencedores da eleições não há muito tempo atrás (os boys), um regime muito parecido com o que a Universidade vai ser no que respeita ao seu governo. Tenho receio que este tipo de governo Fundacional presta-se a isso. Quem pode filtrar tais desmandos? O Conselho Geral será afeto ao reitor por defeito do RJIES, os curadores estão longe do dia a dia da UM e por natureza são permissivos, e o resto da Academia vota de quatro em quatro anos, quando o mal já está feito. Claro que contratações não podem ser revertidas facilmente. Promoções também não. Só vejo uma saída, o orçamento ser sempre escrutinado em pormenor e votado por maioria absoluta no Conselho Geral. Temos ainda o património a vender e a comprar. As instalações do Castelo, cobiçadas pela sua localização, serão vendidas por quem? Pelo Conselho Geral? Pelo reitor? Pelos curadores? Quem trata do negócio? E a quinta dos peões, finalmente perdem a vergonha e avançam com a construção dos "equipamentos" (Associação dos estudantes, sala de congressos, etc), de forma a tapar completamente a frente da UM em Gualtar? Estão muitos empreiteiros à espera destas oportunidades. A progressão na carreira dos professores será paralela à contratação de outros professores fora da carreira e que poderão auferir mais que aqueles que trabalham há anos na UM? Tudo é possível, se a UM estiver nas mãos erradas. Claro que há os aspetos positivos do regime Fundacional que se poderiam alcançar com uma equipa competente e que tenha uma visão de futuro e não temporal para a UM. Será que existe tal equipa depois de tantos anos de domínio de um grupo de professores e alunos que sempre planearam e conseguiram o poder dentro da UM? Infelizmente penso que não, que é como o eucalipto, tudo secou à volta deste grupo que se autorregenera de geração em geração.

domingo, novembro 06, 2016

Todos os Nomes

Os politécnicos querem agora chamar-se Universidades..de Ciência Aplicadas. E as engenharias da Universidade o que são, senão ciências aplicadas? Vai aqui uma confusão...Tudo porque os Politécnicos querem subir de estatuto e querem ser Universidades. Começam por acrescentar que são só de Ciências Aplicadas. Essa extensão do nome, cairá com o uso contínuo da designação e ficarão só a ser referidas como Universidades. É de facto um bom plano, sem custos, de elevação de estatuto. Não quero tirar o mérito aos politécnicos, e há politécnicos melhores em alguns cursos que algumas universidades, atrevo-me a dizer, que algumas privadas que conferem o grau de engenharia. No entanto, a divisão entre universidades públicas e privadas é bem clara. Esta diferenciação apenas num apêndice ao nome, ciências aplicadas, não me parece que distinga suficientemente entre os vários tipos de universidade públicas que agora se pretende instituir. Mas como os politécnicos querem atribuir também o grau de doutor, compreende-se que está em linha com essa pretensão. Na minha perceção sobre este assunto, demasiado sério para ser feito em cima do joelho, devia haver uma avaliação rigorosa das capacidades dos politécnicos em produzir ciência, antes de se atribuir mais funções aos politécnicos de formação superior. E se a conclusão da avaliação é que têm capacidade, então estudar-se-ia a sua promoção a universidade. Seria uma comissão de peritos que seria nomeada para o efeito, incluindo peritos estrangeiros, com curriculum científico de excelência, e não uma decisão por decreto por parte da tutela como os politécnicos pretendem. E como poderá haver politécnicos que cumprem os requisitos para o fazerem e outros não, uns passariam ao patamar superior, atribuir o grau de doutor e eventualmente também passarem a universidade, e outros não. Chamar um nome é fácil, engana e todos os que frequentem e lhes é atribuído o grau ficam satisfeitos. Mas terão sempre o rótulo de doutoramentos de segunda, se as instituições que lhes conferem o grau não percorrerem todos os passos para terem credibilidade.

terça-feira, outubro 25, 2016

Mais doutoramentos para quê ou para quem

De vez em quando os politécnicos lembram-se de reivindicar a autorização para atribuir grau de doutor, ou seja, "fazer doutoramentos". O ministro incentivou esta pretensão criando bolsas de investigação para os politécnicos. Já fazerem Mestrados é duvidoso que seja essa a sua vocação, agora doutoramentos, vai com certeza contra a diferenciação intencional entre os dois subsistemas de ensino superior. Os industriais estão sempre a queixar-se que não há pessoal habilitado para as suas indústrias e que as universidades formam "doutores" (licenciatura), mas que não lhes resolvem os problemas práticos. Os politécnicos constituiriam o sistema vocacionado para esse fim. Parece que ou não está a responder cabalmente a esta pretensão das industrias, ou já não o quer fazer. As Universidades para além dos cursos serem cada vez mais teóricos, conhecendo-se o corte em equipamento e a aversão de muitos professores às aulas práticas, aliás que é geral a todo o ensino, sendo o caso mais notório o ensino secundário, aviam Mestrados e Doutoramentos quanto podem. Alguns destes doutoramentos foram transformados em programas doutorais, o que dá jeito para dar mais horas a docentes que vão ficando com menos alunos com a crise de alunos (cíclica) para os cursos de engenharia. Embora os doutoramentos já não são o que eram, ou seja, pôr à prova as capacidades individuais de um aluno já com Mestrado fazer I&D utilizando a sua iniciativa, uma vez que para além de serem ensinados em programas doutorais também fazem, em muitas áreas nomeadamente as mais científicas, doutoramentos em conjunto, através de projetos que envolvem vários investigadores, há o problema de uma formação tão específica ter interesse para o tipo de empresa que predomina em Portugal, PMEs e indústrias transformadoras sem capacidade para dar seguimento ao percurso científico destes alunos. Muitos acabam por emigrar, tendo todo o esforço feito cá em Portugal servido para outros países que não contribuíram para esse esforço. a não ser que tenha sido através de programas europeus e o país para onde vai o aluno também tivesse feito parte desse programa. Agradecem as multinacionais esta nossa generosidade, e agradecem países como os EUA, e alguns países europeus como a Alemanha e o Reino Unido. Somos parte dos países que formam doutores, mas não fazemos parte dos que os empregam como especialistas de um determinada matéria. Há exceções claro. Mas é preciso ver mesmo nessas exceções o que o doutorado vai fazer, se não serve outros interesses da empresa como angariação de mais subsídios em projetos de I&D. O próprio doutorado tem na maior parte das vezes que "esquecer" o doutoramento e fazer outra atividade para arranjar um emprego. Não há, é verdade, no seio dos professores universitários, a perceção, que para eles é quase uma certeza embora não tenham dados em que se basear, que a investigação é para ser aplicada e muito menos em Portugal, dada a pequenez do tecido industrial tecnicamente evoluído. Por isso muita da investigação que se faz não é para ser aplicada. Mas nesse caso, é necessário formar doutores para serem eles o motor de novas indústrias e empresas de outra índole que não industrial. Porém estes doutores, numa visão de "pay-back" ao país que tanto investiu nesses alunos, devem ter uma formação excelente, com equipas de investigação excelentes, e que tenham objetivos de aplicar o que fazem, mesmo que seja a médio-longo prazo em indústrias existentes ou a formar, em Portugal. Para quem sabe o que custa arrancar com estas equipas, com reconhecimento internacional, não compreende como por decreto se pode instituir mais doutoramentos, sejam em universidades ou politécnicos. Muitos alunos fazem doutoramentos porque gostam da investigação. Outros porque pensam um dia emigrar para um daqueles países que acolhem doutorados. Outros pelo prestígio de ter um doutoramento, mas depois arranjam outro tipo de atividade. Poucos pensam que o seu doutoramento vai lhes dar um bom emprego em Portugal. Quando havia renovação e vagas no ensino superior, esse era um dos objetivos principais: ser professor universitário, e mais recentemente, do politécnico. Com tempo vai haver renovação, mas para um ínfima parte dos que se doutoram em Portugal. Por isso quando os politécnicos pedem para "fazerem" doutores, pergunto, mais doutores para quê? Ou, para Quem?

domingo, outubro 09, 2016

PIPs e tiques no urbanismo de Braga

As quintas de Braga, originalmente a serem destinadas a espaços verdes, já têm outro destino: o imobiliário. No caso da Quinta dos Peões, já neste espaço discutida, está destinada a "equipamentos" que incluem uma Associação do estudantes, um centro de conferências, entre outros, todos edifícios obviamente imponentes em aspeto e com certeza em tamanho, a julgar pelos últimos que têm sido construídos no campus de Gualtar, também com designações interessantes para não haver muita contestação. Agora é a vez da Quinta das Portas. A julgar pela descrição do que foi decidido e apresentado à Assembleia Municipal, pelos vistos já depois de se terem iniciado as obras, este espaço à entrada de Braga, quem vem do Porto pela estrada nacional, será ocupado por um espaço comercial (mais um!) neste caso do Continente. A acreditar na notícia no Correio do Minho, este projeto tinha tido um parecer desfavorável dos técnicos da Câmara que têm essa função, mas foi ignorada pelo vereador Miguel Bandeira, também professor da UM, que detém o pelouro do urbanismo. Argumenta M.B. numa longa justificação, que os proprietários têm a prerrogativa de decidir para que fim se destina estes terrenos, interpondo um PIP (?) ao PDM aprovado, e se a Câmara não o fizesse teria de pagar dezenas de milhares de euros aos proprietários. Aliás, argumenta, como é habitual a Câmara fazer, que esteve acessível ao público o que sanciona a seu ver qualquer decisão que se tome, mesmo que seja contrária às promessas eleitorais nas últimas eleições autárquicas, em sentido contrário, que é na realidade a única consulta que é válida. Em primeiro lugar, quem são estes proprietários? Adianta que muitos proprietários não usam estes PIPs mas este usaram. Serão os originais donos de um quinta agrícola e portanto alheios a este tipo de jogadas, ou entretanto passaram a ser outros com capacidade para este tipo de pressão? Tal como argumenta a oposição, este executivo já ultrapassou o anterior com concessões em lugares nobres da cidade o anterior, como se constatou ao vermos o LeRoy Merlin surgir numa avenida ladeada por zonas verdes, muito apreciada pelos bracarenses que percorrem aquela avenida nos seus períodos de lazer, fazendo jogging ou pura e simplesmente andando a pé. Agora, para além deste enorme pavilhão com um parque ladeando o passeio desta avenida, têm ainda um outro espaço, que deve estar para breve a sua adjudicação para mais um destes pavilhões substitutos do campo agrícola adjacente, nascer e tapar esse campo com cimento para estacionar carros, e em altura tapar o horizonte e a vista sobre a cidade. Para já, estão lá uns montes de terra, e o espaço está vedado por uma vedação metálica, que em nada condiz com o que ainda há de agradável naquela via. Não se entende como isto é permitido por um Câmara que originou de um panfleto de crítica a uma anterior equipa que geriu a Câmara durante muitos anos, mas que no fim do mandato vinha corrigindo e até fazendo menos, em construção, que era o que se pedia, e melhor. O último centro comercial construído na vigência do anterior executivo, foi fora da cidade, a Nova Arcada. Estes são na cidade, trazendo pressão nos acessos viários, que já de si estão congestionados em períodos de compras (fins de semana e fim da tarde). Soa a uma fraca desculpa o que se vem agora dizer sobre este assunto, quando muito mais do que se diz que se teria pagar aos proprietários da quinta das portas, seria necessário para aliviar a envolvente com novas vias para descongestionar o tráfego. Claro que não se fazendo estas vias, os bracarenses que aguentem, e sendo novidade, até aguentam na fila para visitar mais um espaço apetecível para os consumidores "de montra" nos seus passeios de fim de semana. Muitos vem dos arredores e não têm que suportar estes inconvenientes e esta vista estragada diariamente como muitos habitantes de Braga. E nós a pensar que nos tínhamos livrado destes "tiques" urbanísticos com a saída do anterior executivo e a entrada deste no governo da Câmara de Braga. Só em sonhos....

sábado, setembro 24, 2016

A classe média

Discute-se muito o que é a classe média, onde começa e onde acaba. Os professores são classe média? Normalmente são considerados classe média, pelo ordenado que auferem. Isto porque Portugal não tem classes baseadas na educação que tiveram e que demonstram como países como o Reino Unido por exemplo, mais concretamente a Inglaterra. Neste país os professores ganham mal, em relação por exemplo ao que alguém com um mínimo de habilitações, mas são considerados classe média. Também há a componente de trabalhar por conta de outrem, que ajuda a classificar alguém como classe média. Em Portugal há esta ideia que desde que tenha um carro, uma casa e os filhos a estudar, com um ordenado líquido acima dos 1000 euros cada membro do casal, são classe média. Independentemente de tudo o resto, baseando-se só no que auferem. Não entendo porque se fala de classe média com base só neste aspeto. A educação é importante e ao classificar a classe média só com base no que auferem, não há aquele objetivo altruísta que noutros países como a Inglaterra existe, de se ter orgulho de pertencer a esta classe. Embora este conceito possa ser considerado elitista, como não está tanto associado ao dinheiro mas à educação, querer ser da classe média é querer ter educação. E ao demonstrar essa educação, normalmente há mais civismo em relação à sociedade. Há muitos exemplos: respeitar filas e aguardar pela vez, falar baixo em lugares públicos, não incomodar outros de uma maneira geral sem razão para tal, pedir desculpa no caso de ofender alguém sem intenção, educar os filhos como os próprios foram educados ou quereriam ter sido educados, não dar tudo o que os filhos pedem mas dar o possível moderadamente, não exteriorizar sentimentos de forma a provocar sentimentos de pena noutros, e muito menos, regra de ouro da classe média, ostentar riqueza. Serão quase os mandamentos da classe média britânica que nós em Portugal teríamos muito a ganhar se os adotássemos. Com uma classe média com um número maior do que a que existe, baseada nestes critérios, talvez tomássemos atitudes que a todos beneficiaria, e vivêssemos num país com mais civismo. Ao considerar a classe média com base só no rendimento, os políticos usam e abusam do termo sem quaisquer benefícios para ninguém com frases como: a classe média está a ser prejudicada com impostos. Quem? E porquê que é importante não sobrecarregar a classe média com impostos? Será que a classe média merece ser poupada? Se eu fizer parte da classe média, a minha primeira reação é que sim. Mas só quero pertencer a essa classe por essa razão. Não porque ela é mais educada. Se for só por essa razão, a dos impostos, não deveria ser a razão para eu querer fazer parte dessa classe se fosse um jovem na idade de escolher um rumo para a minha vida. A educação deveria ser o estímulo, e assim talvez houvesse esperança para o futuro de termos um país melhor ou pelo menos com mais civismo.

quarta-feira, setembro 07, 2016

Como impedir praxes de alunos que representam a UM, fora do campus?

Sobre as praxes, o reitor e presidente do CRUP, António Cunha afirma em jeito de resposta ao ministro que mais uma vez envia uma mensagem escrita aos reitores num artigo do jornal Expresso, reproduzido no jornal Público, que não tem maneira de controlar as praxes fora da UM. Penso que o que ele quer dizer é que não tem vontade de fazer nada nesse sentido. Todos nós na UM presenciamos as praxes dentro da UM, embora silenciosas porque as outras mais barulhentas são mas imediações, do outro lado dos muros à vista de todos dentro do campus de Gualtar. Basta transitar entre os complexos pedagógicos 1 e 2. Até parece um jogo...de praxes suaves de um lado do muro, a praxes agressivas, pelo menos à dignidade, do outro lado. A conduta de alunos da UM deve ser, enquanto alunos, regulamentada, seja dentro ou fora da UM. Assim é para membros identificados com farda ou distintivo das forças armadas, polícias, entre outros. Se um aluno fora do campus está identificado com traje da UM pode e deve se reger pelas normas da UM, e se as normas proíbem as praxes, deve obedecer sob pena de ser punido. Seria tão simples como isso. Se quiser fazer as praxes, que as faça a título individual, como cidadão, mas não como futuro engenheiro ou doutor da UM, É lamentável que um futuro doutor ou engenheiro, seja visto como um "bully" ou no outro extremo, como um ser humilhado e despojado do seu amor-próprio e dignidade. Claro que membros da UM a servir de polícias para impedir que alunos trajados fizessem praxes fora do campus, não será fácil de implementar. Não se pode ter uma polícia militar como no caso dos militares. Mas havendo vontade, alguma forma de o fazer surgiria, até por acordo com as autoridades policiais, uma vez que a praxe pode ser considerada alteração da ordem pública, com o barulho que fazem e as obscenidades que gritam, e nesse caso a polícia poderia pedir identificação a quem estaria trajado e enviá-la à Universidade. Os polícias antigamente, quando as crianças partiam um vidro a jogar à bola, a polícia ia à casa dos pais avisar os pais para controlar os filhos. Neste caso, se os alunos da UM querem portar-se como crianças mal comportadas, deviam ser tratadas como tal.

terça-feira, agosto 30, 2016

O Turismo no seu pior

Findas as férias de verão, ficam imagens de um país encostado ao litoral, com a enchente de turistas e dos trabalhadores que servem esses turistas. Com cidades e o interior esvaziado de população, temos um país desequilibrado, como que inclinado. Já com os prédios contruídos no Algarve nos últimos anos, se fosse um barco, o país teria já capotado! Assim, temos só na realidade uma barreira de cimento constituída por esses prédios, que não se resume ao Algarve, abrangendo também a costa de Lisboa e Norte de Portugal, sendo as praias da Póvoa de Varzim e Vila do Conde os piores exemplos, para não falar das torres de Ofir, ainda de pé. Falando do pior do turismo, não podemos deixar de falar da nova tendência dos alugueres selvagens, que retiram a possibilidade do arrendamento a jovens casas que precisam de casa nas grandes cidades ou outros arrendatários para habitação permanente, para não falar dos despejos de idosos dessas casa, uma tendência baseada na especulação dos senhorios e proporcionada por imobiliárias virtuais como o airbnb. Como se tem discutido ultimamente, este é um problema dos centros históricos das cidades como Lisboa e Porto, como já o foi para Barcelona e Berlim, por exemplo. Podia-se aprender como o que de negativo ocorreu com este fenómeno nestas cidades, mas pelos vistos somos lentos a aprender e a atuar. A voracidade da ganância dos especuladores e dos futuros senhorios estrangeiros em ocupar casas em bairros históricos, inicialmente para se reformarem ou passarem férias mas agora para alugar e ganhar dinheiro fácil no aluguer a outros turistas, ainda por cima quando são apoiados generosamente com fundos para a reconstrução das casas, fundos esses que provêm do erário público, é uma realidade assustadora. Teremos as nossas principais cidades transformadas na Disneylândia ou parques temáticos históricos, sem alma nem habitantes residentes? Veremos até onde vai o desleixo das autoridades locais e do governo nesse sentido. Temos ainda o fenómeno dos "bagpackers", que viajam só com um mochila como o nome indica em voos low-cost e se albergam em hostels que crescem que nem cogumelos por essas cidades costeiras portuguesas, abrangendo aos poucos as outras cidades mais pequenas também com património histórico rico; hostels e hotéis também convertidos de antigas moradias ou pura e simplesmente que foram deitadas abaixo, e que pouco ou nada contribuem para a riqueza nacional. Não frequentam restaurantes mas comem fast-foods ou sandes que preparam nos hostels ou quartos alugados, pouco gastam em cafés, nada compram nas lojas de artesanato local e muito menos nas outras, visitam locais para tirarem fotos nos seus telemóveis, muitos de uma forma automática e sem outro objetivo que não seja o de as colocarem nas redes sociais, e de uma forma geral invadem espaços como museus e outros locais de acesso limitado e ruas estreitas de sítios históricos como Alfama em Lisboa, tornando o percurso e o acesso a estes locais cada vez mais difícil e menos apelativo. Há ainda os tuc-tuc, veículos que invadem ruas antes só de acesso aos peões. A voracidade dos bagpackers não tem limites! Antes, estes bagpackers eram jovens e contavam-se por os dedos de uma mão os que encontrávamos e até achávamos piada. Eram os chamados turistas de pé-descalço. Talvez por serem jovens em digressão pré-universitária. Agora, são pessoas de todas as idades, que têm os seus empregos mas que gostam de poupar, e mais, de apregoar o que pouparam (à nossa custa!). Dito isto, também fiz parte dos que rumaram à costa, só por uns dias, como todos os anos, mas não me revejo em qualquer aspeto do que referi nestes apontamentos: não construi nem comprei apartamentos em frente à costa, não fiquei em hostels só com um mochila, não viajo aliás com mochila porque acho que incomoda os outros cidadãos ao entrar em lugares apertados, não apregoo que poupei dinheiro à custa de outros, nem como fast-foods, mas antes vou a restaurantes ou como comida cozinhada em casa (às vezes confesso que faço sandes...).

quarta-feira, agosto 03, 2016

Livros de férias- City of God

Li dois livros durante uma deslocação a uma conferência na República Checa, e recomendo um para férias, "The City of God" de E.L.Doctorow. É o tipo de livro de substância que contrabalança com o vazio intelectual que as férias proporcionam. “City of God”, é um livro que começa de uma forma, sobre a teoria do espaço interligado com o advento do Mundo visto por um pastor anglicano norte-americano. É uma análise surpreendente do "big bang" que o autor procura justificar também com a religião e a formação do Universo pelo grande arquiteto, Deus. Mas sendo de leitura densa, não deixa de ser muito interessante. O teórico passa rapidamente ao relato da vida do pastor, incluindo a sua relação com mulheres, o que chega a ser contraditório á sua conformação religiosa, tratando-se de adultério. Não deixa de ser interessante ao revelar a hipocrisia que existe por esse mundo, ao se pregar uma coisa e fazer-se outra. Também é original o facto do pastor ser judeu de nascimento e pastor cristão quando adulto. Aliás uma grande parte do livro relata o seu passado num ghetto judeu controlado pelos nazis, na Estónia. O que se passava no ghetto e o que os judeus faziam para sobreviver é deveras chocante. Todo o livro incide sobre o cristianismo e o judaísmo, e o mote de partida é um acontecimento intrigante, relativo a uma cruz que é roubada da igreja de Pem, o pastor anglicano, e que acaba no telhado de uma sinagoga. A partir desse episódio, cometido por um desconhecido, toda uma relação se estabelece entre o pastor e o rabi, Joshua, e sua mulher, Sarah. Não querendo divulgar o final do livro, levanto o véu advertindo o leitor para um desfecho inevitável da relação destras três personagens e da condição religiosa de Pem, o pastor anglicano. Na religião, como na ciência, quando se questiona demasiado aquilo que nos ensinaram ou que aprendemos lendo e estudando, acaba-se por ser engolido por uma atitude de crítica constante. Talvez seja mais prudente mantermos sempre uma linha de pensamento constante, por muitas contradições que surjam no caminho a essa "teoria" de base. Talvez esteja enganado, mas penso que esta é a ideia que este livro pretende transmitir.

domingo, julho 17, 2016

Ministro tenta travar praxes

Na imprensa desta semana vem a notícia que o Ministro da Educação afirmou em audiência parlamentar que vai escrever a todos os reitores para que proíbam as praxes. Foi uma medida corajosa e que já devia há muito ter sido tomada apor anteriores ministros que o antecederam. Tudo o que o ministro disse sobre as praxes já foi dito e redito por muitos nomes conhecidos da política e da sociedade. Os jovens que morreram na praia do Meco ou no muro de Braga, são a consequência mais grave das praxes. Há ainda o jovem de Famalicão. Todos estes trágicos incidentes não tiveram culpados. Não foi possível juntar provas. Em alguns casos, como o da praia do Meco, uma vez que só muito mais tarde, depois da casa ser limpa, é que as autoridades revistaram a casa. Não vou aqui servir de inspetor para procurar provas, mas que ninguém consegue tirar da minha cabeça, assim como acontece com a maior parte dos que souberam dos pormenores que antecederam a tragédia, que aquilo foi consequência de uma praxe, em que o "dux" foi interveniente na tragédia, isso não conseguem. Nem chegou a ir a tribunal acusado de homicídio involuntário, por negligência na forma como conduziu a praxe, aparentemente ordenando que os praxados estivessem de costas para o mar. É a justiça que temos. No caso do rapaz de Famalicão, chegou-se ao cúmulo da mão ser acusada por um dos membros da tuna envolvida no trágico incidente, tê-la acusado de difamação! Como é possível, a praxe estar de tal maneira aceite pela sociedade, que nem mortes ocorridas não fazem todo um povo revoltar-se? Já aqui exprimi que é uma espécie de doença da nossa sociedade que tem medo do poder oculto que está por detrás dos praxistas, algum desse poder chegando à igreja, sistema judicial e obviamente órgãos de poder ou influentes na Universidade, estes protegendo as ações dos praxistas, ou simplesmente pactuando com elas. O ministro chamou-lhes "fascizantes" às praxes. É uma afirmação que nos faz pensar. Afinal, independentemente dos nomes que se lhes atribuem mais ou menos honrosos, tais como a integração de estudantes na vida académica, são também atos de submissão perpetrados por “bullies” que não têm outro objetivo para além de humilhar os praxados o que por si só justifica a afirmação proferida pelo ministro. Não haverá outra forma mais digna de integrar os caloiros? Porque não promovem o convívio e a receção ao caloiro, com festa e alegria, sem a componente da praxe? Da forma como o fazem agora, com a praxe, parece-me mais uma barreira que uma integração. No que respeita à UM, pareceu-me que a resposta do reitor da UM foi um pouco ténue, falando vagamente em valores humanistas e liberdade para todos. Isto o que é? Que tipo de resposta é esta? Não se entende. Um reitor que proibiu há algum tempo atrás praxes no campus, mas que as deixa praticar tais atos à vista de todos nas imediações, é o mesmo que fazer nada. Aliás as praxes continuam dentro do campus, embora transvasem para as imediações. O ministro não pode ditar regras às universidades devido à autonomia que foi concedida às universidades há muito tempo. Mas se a autonomia serve para evitar atuar, nomeadamente nestes casos gritantes de injustiça e prepotência por parte das Associações dos Estudantes e duma elite dentro da Associação que dirige as praxes, quase como uma estrutura autónoma, atuando impunemente perante os mais fracos daqueles que supostamente representam, os estudantes, então preferiria que não houvesse autonomia. O reitor não pode ir a votos de novo, mas apoiará um sucessor. Nessa altura será necessário ser claro na sua atitude que até agora tem sido ambígua no que respeita à praxe, para que quem o suceda, e a lista que o apoiará, seja também sujeito ao escrutínio da academia neste ponto tão relevante para a vida académica.

sábado, julho 09, 2016

A festa têxtil e os elefantes brancos

Decorreu esta semana no dia 7, no Instituto de Design em Guimarães, uma atividade que se designou por festa têxtil, organizada pelo departamento de Engenharia têxtil da UM e a Câmara de Guimarães. Neste certame o departamento de engenharia têxtil junto com algumas empresas, expuseram os seus produtos como forma de demonstrar o que de melhor se faz nestas entidades. Por parte do departamento, foram expostos protótipos de equipamentos e os visitantes, principalmente alunos de escolas profissionais locais que frequentam cursos têxteis, foram incentivados a aprender ciência com os protótipos. Como já é hábito em eventos organizados pelo departamento de engenharia têxtil ou o centro de investigação têxtil, 2C2T, não houve uma grande adesão por parte das indústrias têxteis ao evento. No entanto, houve uma mostra muito profissional das empresas que lá estavam com os seus produtos, e por parte do departamento, considerando os recursos limitados do departamento/Centro 2C2T. Houve ainda uma tertúlia que contou com a presença do presidente da câmara de Guimarães, do reitor da UM, do presidente da Escola de engenharia e de convidados. A plateia também participou. Um dos temas apresentados pelo moderador incidiu sobre o equipamento científico disponível para apoiar o desenvolvimento da indústria, argumentando que já se justifica um centro de investigação, apoiado pela indústria, que confira ao setor a importância que ele merece. Houve por parte do presidente da câmara um apoio a esta ideia, mas por parte do reitor e de Mário Araújo, ex-professor catedrático do departamento e convidado para o painel, houve uma recetividade um pouco fria. Mário Araújo considera que já existem alguns elefantes brancos, não especificando quais mas não foi difícil adivinhar quais os institutos que apoiam a indústria têxtil que poderia ser classificados desta forma por M.A. Argumentou que um centro com equipamentos, de topo, mas sem massa cinzenta seria um desperdício. Considera que se pode organizar consultas em rede aos institutos europeus existentes, sem necessidade de fundar mais um. Não explicou no entanto como, ficando no ar uma indefinição que sugere que esta forma de resolver o apoio ao setor também não seria procedente. O reitor também alinhou por uma opinião semelhante, embora defendendo o que já existe nessa área na região, e nomeadamente na Universidade. Também houve por parte da assistência, na pessoa do diretor do centro de investigação têxtil da UM, 2C2T, a defesa deste centro argumentando que serve este propósito. Não foi tida em conta esta intervenção, considerando-se que o centro está mal apetrechado, continuando o representante da indústria a insistir na fundação de um centro de alto nível apoiado pela indústria. O problema é que não sendo esta indústria, têxtil, como outros setores que apostam em projetos de I&D, pelo menos o passado o tem demonstrado, não vejo como de repente pode desatar a comprar equipamentos sofisticados sem um plano bem definido de como e em quem investe, sem recursos humanos à altura de tão grandes ambições, sem capital, uma vez que se dia que a indústria está descapitalizada, e sem uma atitude de investimento na sua própria indústria em quadros altamente qualificados (numa escala já de si modesta), antes optando por técnicos intermédios ou querendo pagar aos engenheiros saídos da universidade o mesmo que a um técnico saído de uma escola profissional. É de facto sonhar alto e também já agora, falar alto. Houve no entanto algo que poderia ser aproveitado desta discussão pelo senhor reitor, que ele próprio aceita, que é aceitar o facto das instalações do centro de ciência e tecnologia têxtil e do departamento de engenharia têxtil, estarem degradadas, muitos equipamentos a precisarem de reforma. Também concordo que a indústria deve ser convidada a dar opiniões, já que investimento em I&D não é com a indústria, a não ser que seja comparticipada a 100% pelo Estado, seja diretamente ou indiretamente, como tem sido habitual com os programas de investimento PEDIP, QREN e agora Portugal 2020. O reitor até concordou em não se fazerem mais elefantes brancos, como argumentou Mário Araújo. Esqueceu-se no entanto que noutras áreas continua a promovê-los, como recentemente o fez em parceria com um elefante branco já existente. Desde que seja Física podemos pelos vistos ter elefantes brancos, em áreas tecnológicas essenciais à região, já será um desperdício.

sábado, julho 02, 2016

O Brexit e nós

O referendo no Reino Unido que resultou numa saída da Comunidade Europeia, o chamado BREXIT, devia dar que pensar a Portugal e aos restantes europeus, sobre o papel dos britânicos na história da Europa, no deve e haver. A Inglaterra jogou tudo neste referendo nas suas relações com a Europa, arriscando-se ainda a perder a sua ligação à Escócia e ao desmembramento do Reino Unido. Não o fez de ânimo leve, mas após anos de insatisfação com as políticas europeias de controlo da aspetos que considera dizerem só respeito aos ingleses. São inúmeras as ingerências da CE nos estados membros, algumas bem intencionadas, como a dos refugiados, outras menos bem intencionadas e mais focada nos interesses dos estados fundadores, como por exemplo a PAC, política agrícola comum. Se os países como Portugal ganharam muito com o investimento da CE, foi também graças à comparticipação nesse investimento por parte do Reino Unido. Não temos que alinhar com a Alemanha na condenação ao Reino Unido, uma vez que a Alemanha é quem mais nos controla e humilha. O reino Unido não fazendo parte do euro, manteve-se sempre à distância. Veja-se recentemente as declarações do ministro das finanças da Alemanha, o sr. Shauble! A provocar um efeito internacional de desconfiança ao afirmar que Portugal vai ter um novo resgate. Não sei se devemos alinhar com um país com um ministro que constantemente nos ataca ou se devemos alinhar com o nosso mais antigo aliado e que nunca pôs em causa a nossa soberania. A Alemanha esteve por detrás da troika que com a aliança do governo de Passos Coelho nos forçou a comer o pão que o diabo amassou durante 4 anos. E agora vem dizer, pela boca do seu ministro das finanças, que temos que ter um resgate! É caso para dizer, levaram-nos a esta situação para nos condenarem. A Inglaterra foi nossa aliada desde a batalha de Aljubarrota, assegurando a nossa independência de Castela, nossa aliada contra Napoleão, assegurando a nossa independência novamente, na primeira grande guerra, não nos atacando na segunda grande guerra mesmo quando Salazar fornecia volfrâmio aos alemães. Agora que precisa de alguma consideração por parte de Portugal e de países europeus, que beneficiaram muito da sua aliança na grande guerra, aliás dos próprios alemães que queriam se libertar do jugo dos nazis na sua própria terra, depara-se com um coro de ataques por parte do sr. Hollande primeiro ministro da França, país que a Inglaterra juntamente com os americanos libertou dos nazis na II grande guerra, e de países como a Polónia que tinha uma força de libertação aquartelada em Inglaterra também durante a querra. De Gaulle não queria a Inglaterra na CE, e boicotou a sua entrada nos anos 60, numa atitude que na altura foi considerada de quase traição pelos ingleses que o abrigaram , tal como aos polacos, durante a guerra. Agora François Hollande faz coro com a Alemanha para o Reino Unido fazer as malas e saír depressa, como quem diz, vai-te que nunca te quisemos cá. Menos mal a postura da senhora Merkel que tenta acalmar os mais intolerantes. A decisão de sair pode não agradar a muita gente, e não me agrada a mim tampouco. Mas a democracia é assim, e temos que respeitá-la. Estão no seu direito. E acima de tudo respeitar a história que temos em comum com o Reino Unido que foi em grande parte o leito do País independente que somos hoje.

quinta-feira, junho 23, 2016

O RJIES, a Fundação e o sistema (pouco) democrático de eleição dos orgãos de poder

Passado alguns anos de implementação do RJIES, e dos estatutos da UM, é de estranhar que não haja maior discussão das vantagens e desvantagens destes estatutos na vida e funcionamento da Universidade. O RJIES foi talvez dos regulamentos mais discutidos mas sem ter beliscado o fundamental do regulamento. Não se nota grande aclamação do RJIES pelos universitários ao longo destes anos. Pelo contrário. No caso dos funcionários, logo desde o princípio houve uma reclamação, que não foi atendida, de só terem um lugar no órgão máximo de governo da Universidade, o Conselho Geral, composta por 25 elementos. Sempre achei que tinham razão por me parecer um medida elitista. Por outro lado, a experiência mostrou que o Conselho Geral é dominado por uma maioria, oriunda de uma lista que ganhou as eleições, e que uma vez no poder, dificilmente outros que não fizeram parte dessa lista terão influência nas decisões. Este sistema funciona num quadro político, como num parlamento ou assembleia, mas não é benéfico para a instituição por não haver forma de controlar o que provém da reitoria. Curiosamente é definido pelo RJIES que é o Conselho Geral que define a estratégia da Universidade. Todos percebemos que não é assim. O reitor, apoiado pela lista que o elegeu, é que define a estratégia. O Conselho Geral poderá ter comissões para tratar dos detalhes, mas as linhas gerais, são definidas pelo reitor. Outro aspeto já muitas vezes focado aqui neste "expositor" pessoal, é de que o RJIES transformou uma democracia direta numa democracia indireta, uma vez que o reitor não é eleito por todos os membros da Academia, mas por uma espécie de colégio eleitoral, ou seja o Conselho Geral, que até já tem o candidato escolhido aquando da formação das listas. É por demais evidente, que o espírito do RJIES ao permitir qualquer candidato a reitor, desde que seja Professor Catedrático, e até encoraja a que seja de fora da Universidade em questão, é totalmente falseado ao ter candidatos já pré-definidos aquando da candidatura das listas, sendo que o reitor é um apoiante, declarado ou encapotado, de uma das listas. O mesmo sucede nas Escolas, que á imagem da Universidade tem um Presidente e um Conselho de Escola, que terão as mesmas funções que o Reitor e o Conselho Geral à escala de uma Faculdade. Com a Fundação pouco muda no que se refere à eleição do reitor ou dos Presidentes de Escolas/Faculdades. No funcionamento da Universidade haverá algumas alterações, como seja a figura dos curadores, que segundo se percebe vão controlar a Universidade no que respeita à sua estratégia orçamental. Por estas razões, sendo Fundação ou não, ficamos nas Universidades na mesma no que respeita à eleição dos órgãos de poder, sujeitos a lobbying por parte de quem já governa, ou seus parceiros, durante o período de campanha eleitoral para a formação as listas, com a agravante deste lobbying ser efetuado por quem já tem o poder o que o torna opressivo para quem é abordado. Com uma democracia indireta, baseada num Conselho Geral que se comporta como um colégio eleitoral, é inevitável que assim seja.

domingo, junho 05, 2016

Os cursos têxteis e os empregos na indústria

Vimos na imprensa recentemente ser anunciado que na UM, os 8 finalistas do curso de engenharia têxil tinham tido ofertas de 200 empregos. Será que é benéfico anunciar as vagas que existem na indústria para aliciar candidatos aos cursos das Universidades? Não seria melhor anunciar onde estão os melhores empregos? É que para um licenciado hoje arranjar emprego, tem que aceitar um ordenado que não tem nada a ver com o que um licenciado recebia há uns anos atrás. As habilitações académicas estão desvalorizadas, não porque estejam piores, o que também é difícil de avaliar, mas porque há muitos licenciados para a geografia empresarial existente em Portugal. No caso da têxtil os candidatos ao curso e os seus pais têm essa perceção. São na maioria pequenas e médias empresas que não comportam um licenciado, e muito menos dois ou três, na perspetiva dos patrões. Na verdade o que os patrões querem e sempre quiseram, com honrosas exceções, é mão de obra barata. Os engenheiros fizeram-lhes jeito para darem o salto de empresas rudimentares que eram em empresas modernas e bem equipadas, graças também ao esforço que o país fez com os programas comunitários de apoio financeiro nas últimas décadas. Agora que as empresas funcionam de uma forma rotineira e automática. sentem que não precisam dos engenheiros. Põe-se a questão se não deveria haver uma maior aproximação para o grosso das empresas e fornecer-lhes profissionais que teriam cursos técnicos, a nível do que o politécnico oferecia há uns anos atrás, os engenheiros técnicos, sem descurar os cursos com maior exigência para as grandes empresas, que não são assim tantas, e para a novas empresas dedicadas a setores mais exigentes tecnologicamente, como a dos têxteis técnicos. Para formar engenheiros técnicos, com a tentativa de fusão de que se falou em tempos, seria uma solução para o IPCA, por exemplo, em conjunto com a Universidade do Minho, fazer um tal curso desse género. Seria também útil que os alunos fizessem estágios frequentes na indústria ao longo dos 2 a 3 anos do curso. Para o caso do curso mais evoluído, seria uma ideia manter os Mestrados e doutoramentos, mas não prosseguir com o curso de Mestrado Integrado, uma solução que nasceu com Bolonha e que tantas críticas tem merecido por parte de todos, empregadores em primeiro lugar, mas também de professores e dos próprios alunos.

domingo, maio 22, 2016

O ensino privado e o público, comentados por liberais

A guerra entre colégios privados e o Estado, sobre o financiamento de turmas aos colégios privados, teve o condão de despertar em muita gente os sentimentos liberais em relação ao ensino de uma maneira geral. Os argumentos liberais são centrados na liberdade de escolha dos pais e alunos, um argumento que se aceita em democracia. Mas não refere que esse ensino é pago por todos nós para alimentar um negócio que são os colégios privados. Esconde a verdade dos factos e propagandeiam uma ideologia de "liberdade". Os meios de comunicação, na maioria simpatizantes de ideias liberais, ajudam na mistificação. Tudo isto seria de esperar, uma vez que sendo algo que lhes foi oferecido, por uma governo liberal , de Passos e Portas, agora vêm o seu presente lhes ser retirado. Já tinha tentado com o cheque-ensino, outra aberração. É normal que se sintam frustrados. O governo contrapõe que o dinheiro dos contribuintes é para a escola pública e que só quando a escola pública não pode responder, ou porque não tem oferta de ensino nas proximidades dos alunos ou porque é um ensino especial, é que abre uma exceção. Este problema também teve o condão de revelar uma faceta de certos comentadores que normalmente não é divulgada pelos próprios. Veja-se por exemplo Miguel Sousa Tavares do Expresso, na sua coluna de opinião dessa semana. Conclui a sua crónica. dizendo que o Estado é gastador porque vai utilizar o dinheiro retirado aos colégios privados para distribuir manuais escolares a todos! Para já não é sério dizer que é para todos, porque será só para o ensino primário, segundo li em artigos sobre este assunto. Depois os manuais escolares gratuitos vão beneficiar aquelas famílias que não têm dinheiro para os comprar. Não serão as famílias de classe média ou alta que terão problemas em pagar 200 ou 300 euros.Dizer que dinheiro retirado colégios de meninos que têm a sorte de pertencer a estas famílias, ou que não têm outros problemas que os travam de entrar no colégio, deficiência ou outros problemas de educação, e que é utilizado para manuais de suporte aos pais de meninos e meninas que não tem sequer dinheiro para comer decentemente quanto mais pagar manuais de que precisam para "terem a tal liberdade de escolha" no seu futuro profissional, dizer que é um desperdício de dinheiro e que o "Estado" está rico, é de facto extraordinário quando vem de alguém que nos habituou a ter um sentido crítico sem cor política e normalmente consensual.

domingo, maio 01, 2016

A Festa dos Finalistas

Todos os anos assistimos ao mesmo, a feira de vaidades das diversas cerimónias de entrega de diplomas: o desfile de alunos em traje e insígnias; a bênção dos finalistas, uma cerimónia que nunca assisti mas que presumo seja uma cerimónia religiosa a certificar ou proteger pela mão de Deus um grau académico, o chamado "canudo"; a imposição das insígnias. Não entendo muito bem estas cerimónias nem a sua relevância no que respeita ao sucesso do aluno em obter um grau académico. Toda estas atividades se imiscuem no que devia ser um ato puramente académico de entrega de diploma e todos desviam a atenção do que suposto ser o objetivo da Universidade: ensinar e produzir graduados, não atores ou atrizes, soldados ou polícias fardados, com disciplina de praxe, fiéis católicos, modelos de passerelle.... Tudo o resto é folclore e o ensino dispensaria tal folclore se não fossem os pais dos alunos, os amantes das praxes, os responsáveis de protocolo, que não o dispensam. Compreende-se que os pais que investiram tanto no futuro dos filhos, queiram ver o resultado, e não os satisfaz só o canudo, querem ver e mostrar o sucesso dos filhos ou filhas que trouxeram a este mundo, como se de troféus se tratassem. Embora discorde, compreende-se. Agora os responsáveis de uma instituição de saber e ciência, a Universidade, alinhar com este folclore, subjugar-se ao capricho de associações de estudantes como na imposição das insígnias, não separar a religião do ensino na bênção dos finalistas, como manda a lei, é que é já mais difícil de aceitar no século XXI. Mas enfim, desde que se divirtam sem haver mal maior, quem pode criticá-los? O problema é que pode deixar sequelas no caráter das personagens que participam demasiado em tais atividades, nomeadamente os Professores que ano após ano assumem funções de protocolo, ficando eles próprios imbuídos de um espírito artificial e desligado da realidade científica e do saber e do verdadeiro objetivo do ensino universitário, que se devia pautar por uma entrega humilde dos professores à tarefa de ensinar o melhor que podem. Quanto aos alunos, isso, a vaidade de um ato único passa-lhes com o tempo, espero. Os pais talvez sejam os mais gratificados, ao verem os seus filhos chegarem ao pódio. Mas será que o pódio é uma prova que alcançaram a ciência e saber? Fica a pergunta.

domingo, abril 03, 2016

Que estatuto para os bolseiros?

Com o novo governo, há um novo impulso para a I&D por via de maior apoio à estabilidade dos contratos dos bolseiros. Não é claro se estes contratos são só para os pós-doutoramentos tal como foi ventilado pelo ministro da tutela e também não é claro que tipo de contrato se está a pensar instituir. Como muitas das regras e leis introduzidas pelo Ministério da Educação e Ciência ao longo dos anos foram introduzidas sem grandes estudos prévios e muitas tinham a autoria quase exclusiva do Ministro, tal como o RJIES tinha do Ministro Mariano Gago, é natural que seja este o esboço dos novos regulamentos ou estatutos: transformar pós-doutores em investigadores contratados. Mais uma vez se for assim, sem estudos e consultas às Universidades, é natural que sejam os Institutos que beneficiem desta estratégia, assegurando quadros permanentes para as suas atividades, aliás já expectável pelo constante lobbying de institutos independentes, e dos laboratórios Associados na esfera das Universidades que no passado conseguiram contratos de 10 anos para os seus bolseiros, o que não era possível para outro Centros de I&D que não eram Associados. Nas Universidades, a investigação é feita e supervisionada por Professores que desta forma para além de cumprirem uma das suas obrigações, sendo a principal a de lecionarem, também fazem por alcançar um currículo que lhes permita progredir na carreira. Muito se perdeu com os cortes percentuais feitos nos salários iniciados há 6 anos atrás, que diminuiu a diferença entre salários de Professores Catedráticos e Professores Associados, e entre Professores Associados e Professores Auxiliares, no que respeita ao incentivo para Professores na categoria mais baixa subissem de categoria. Não obstante, não deixa de ser um incentivo esta possibilidade de subir na carreira. Se os investigadores não tiverem incentivo para progredir na carreira, e tiverem ordenado fixo sem qualquer outro prémio de mérito, pode-se imaginar que a I&D perderá em qualidade e produtividade. Muitos se recordam que o antigo INETI funcionava assim, com muito pouca produção científica, muito por causa de se reger por estas regras. Esperamos que não se repita o erro, ao tornar investigadores em funcionários públicos. É necessário recuar aos tempos do ECDU em que os Professores Auxiliares tinham que alcançar a nomeação definitiva para permanecerem na Universidade. A lei foi depois alterada para rodear esta questão, tornando o processo burocrático e muito pouco baseado no mérito, significando que muito poucos eram excluídos, mesmo aqueles sem qualquer currículo que permaneceram e continuaram sem outro controlo previsível para o resto da sua carreira, com uma atitude de comodismo e inatividade científica. Acomodaram-se dando aulas e pouco mais. Não se pode cair no mesmo erro com o novo estatuto para os bolseiros. É necessário incutir incentivos aos investigadores, não com contratações a prazo, como parece adivinhar-se para todos, mas contratos sem termo para aqueles, mesmo que sejam uma minoria dos atuais, que realmente mereçam, e introduzir um mecanismo não só de incentivos mas também de risco, baseado no currículo. Esse seria a meu ver um esboço correto para um estatuto que asseguraria uma evolução positiva para aqueles que justamente têm expetativas de estabilidade de emprego, e para o Estado que tem necessidade da Ciência e Tecnologia de topo. Sem outras atividades, nomeadamente a de transmitirem os seus conhecimentos a outros, através de aulas ou de tutoria, também não será tão proveitoso para o Estado a sua atividade e será previsivelmente um foco de conflito entre professores e investigadores, especialmente se a recompensa, monetária ou outra, for equivalente, uma vez que os professores vão considerar que é uma situação injusta para eles, que também dão aulas.

sexta-feira, fevereiro 26, 2016

Desenvolvimento na UM passa ao lado de muitos utentes? Ou não?

Alguns argumentarão que a vida na universidade tornou-se mais fácil e mais agradável. Com os novos processos informáticos ( 0 novo site, os pedidos de equiparação a bolseiro, os pedidos de pagamentos de deslocações) com as novas instalações, com os novos regulamentos como o processo de Bolonha, o blackboard, os inquéritos qualidade on-line, entre outros, tudo parece que melhorou. Tal como eu, suponho que para muitos não é assim. Em relação a Bolonha já muito se falou e eu também já desabafei com a falta de qualidade do ensino nos novos moldes e na desvalorização dos graus de ensino. Nos procedimentos, talvez por termos menos tempo ou menos paciência, admito, tudo se complicou. O novo site da UM não foi explicado, (onde está a intranet por exemplo? Hei-de encontrá-la ainda hoje?), o blackboard muitas vezes avaria, não se podendo aceder ao DUC, os inquéritos da qualidade são uma mera fantasia, muito pior que os presenciais em sala de aula, as novas instalações estão vazias e as antigas, as mais antigas pelo menos como as de Azurém, estão numa lástima (casas de banho com equipamentos avariados, portas de acesso nos corredores que só abrem com muito esforço, aquecimento dos corredores e muitos das salas que não estão ligados, laboratórios à espera há anos para que se arranje uma simples pia entupida, esgotos permeáveis nesses laboratórios, etc). O próprio reitor afirmou numa reunião de empresários recentemente após uma visita aos laboratórios do departamento de engenharia têxtil que as instalações estavam antiquadas. Esperemos que a chegada da Fundação com a propalada flexibilidade de utilização de verbas, se resolvam ao menos estes problemas de instalações. Os outros, os informáticos, teremos que esperar por sessões de esclarecimento a mostrar, e mais importante, a provar que houve uma melhoria, porque para muitos houve sim um exercício de experimentação em que todos nós fomos, e muitos ainda somos, as cobaias.

quarta-feira, fevereiro 10, 2016

Bolsas de investigação para politécnicos

O novo ministro da educação veio hoje anunciar um novo aumento de verbas para a Ciência, o que já era anunciado pelo programa do partido socialista. Mas o mais interessante é que veio anunciar algo de novo que é o acesso a verbas de I&D aos politécnicos, ou seja, supõe-se que bolsas de doutoramento, e o seu acesso por pessoas não integradas no sistema do ensino superior. Quanto ao maior acesso às bolsas, estou de acordo, embora não o ministro não especificasse muito bem quem poderia concorrer. Mas só o princípio já é de aplaudir. Quanto mais abrangente na sociedade o acesso à investigação, melhor. Agora, o acesso a doutoramentos nos politécnicos, vai no sentido da desvalorização que os doutoramentos têm vindo a sofrer na última década nas universidades. Com a entrada em vigor dos programas doutorais, e baseio-me no que conheço nas engenharias, há um primeiro ano académico e só dois de investigação. Alguém consegue perceber como em dois anos se faz um doutoramento equivalente aos doutoramentos que se efetuavam, por exemplo, pelos assistentes que necessitavam do doutoramento para passarem a Professores Auxiliares' Podiam demorar oficialmente 4 anos de investigação e normalmente duravam mais. Não admira portanto, chegados aqui, a uma transformação de doutoramentos em cursos, desde Bolonha, que os politécnicos também tenham essa hipótese. De outra forma, considerando como antes que os politécnicos seriam para formar técnicos para as empresas, e não para fazer investigação, não se compreenderia. Muitos politécnicos não são mais do que escolas de formação superior em que os cursos não são práticos, como o eram antes, nem são teoricamente ricos em substância, como supostamente o serão os das universidades. Chegou-se a um estado de coisas em que os politécnicos, salvo honrosas exceções, são como antes se designavam muita universidades privadas, "de papel e lápis", agora talvez melhor designados de cursos de "wikipedia". Por outro lado, os seus professores , não fazendo investigação, não se vislumbra como a podem incutir nos alunos ou como podem orientá-los. Muitos desses professores só lá vão para dar aulas, não tendo atividades de I&D. Seria pedir de mais que fizessem aquilo que o país pediria deles? Ou seja, transferir novas tecnologias e produtos para o tecido industrial, diretamente ou por via dos alunos colocados no tecido empresarial, e principalmente no industrial? Não se incentiva essa função do politécnico atribuindo bolsas de investigação. O que se vai fazer agora é aproximá-los artificialmente ainda mais das universidades, com bolsas. Já temos universidades de primeira e outras de segunda (os politécnicos) devido a políticas que os sindicatos pedem e que os ministérios aceitaram ao longo dos anos. Esta, das bolsas, é mais uma.

domingo, janeiro 03, 2016

Uma Fundação para servir a região

No final do ano entrou em funções o novo governo, e quase de imediato confirmou a passagem da UM a Fundação. Foi uma prenda de Natal para o reitor António Cunha que sempre defendeu a Fundação como forma de governo da universidade. Não só pela maior flexibilidade na gestão, por ser uma gestão mista privado-pública, com a possibilidade de contratar professores escapando ao controlo do Estado que congelou as contratações na Função Pública há anos, e não parece alterar essa sua posição, mas também por poder adquirir e vender imobiliário sem ter que passar pelo controlo da tutela e talvez nem do Tribunal de Contas. Essa parte nós compreendemos e até podemos beneficiar tanto com as contratações como com a aquisição de edifícios, desde que ambas sejam necessárias. Não precisamos nem de contratações desnecessárias nem de edifícios de fachada, sem uma função nobre, digna de uma Universidade que ombreia com as maiores universidades portuguesas. Desde que não enveredamos por novo-riquismos no imobiliário, nem em contratações sem objetividade. Seria uma oportunidade perdida. Se por outro lado se apostar em novas valências, sejam cursos virados para as necessidades da região, sejam infraestruturas para Centros de I&D de Excelência que tenham um percurso de apoio à indústria da região, e para, por exemplo, alojar empresas spin-off que emanaram da UM, aproveitando os espaços disponíveis no Avepark por exemplo, então já é, na minha perspetiva, uma evolução no sentido positivo. A UM deve mostrar a diferença em relação a outras Universidades, por estar no meio de uma região de pequenas e médias empresas, PMEs, na sua maioria indústrias transformadoras de setores tradicionais mas também nichos de excelência em eletrónica e software. Menos conhecido é a evolução em empresas de produtos bioativos, que quando desenvolvidos em têxteis, potenciam as indústrias tradicionais como a indústria têxtil. Outra área de interesse serão as indústrias a montante da indústria têxtil, tais como a indústria de corantes e de produtos auxiliares têxteis, quase na totalidade importados. O que fica no País, depois dos gastos nestes produtos, é muito pequeno para o que poderia ser se houvesse uma maior integração de produtos portugueses no artigo final têxtil. É preciso portanto que a Universidade aposte em novas indústrias de apoio às indústrias existentes, nomeadamente empresas a montante. Mas também é preciso que a Universidade invista em apoio à Gestão dessas empresas, que carece de uma lufada de ar fresco, muitas ainda nas mãos de famílias conservadoras eoutras nas mão de gestores de fundos de capital de risco, que não entendem nada de gestão de empresas transformadoras, tais como empresas têxteis. As humanidade são também importantes nas áreas que são muitas vezes menosprezadas na indústria mas que tanta falta fazem. Por isso noutros países os gestores têm muitas vezes outra sensibilidade por serem formados em áreas "soft" como línguas, psicologia, filosofia entre outras. O que não precisamos é mais do mesmo, com investimento nas mega-áreas existentes na UM, que já deram mostras de viverem à custa de projetos que mais não são que o suporte a bolseiros e investigadores que não estão inseridos nas áreas existentes no tecido empresarial do norte de Portugal, nem sequer do país, mas que estarão numa ilha sem pontes para esse mesmo tecido empresarial. É preciso criar estas pontes, e se a Fundação o fizer, que seja bem vinda.