sábado, fevereiro 08, 2014

Alunos fora e dentro

Os alunos são o nosso projeto na Universidade, tanto como a ciência. No entanto tratamos os alunos como se fossem material descartável. Vêm e vão. Se vingaram na vida ou não com o que lhes ensinámos, não queremos saber. Eles pensam mais em nós e nos tempos da Universidade do que nós neles. É assim e sempre será, e nós sabemo-lo porque também já fomos alunos e lembramo-nos dos nossos professores, mas eles não se lembram de nós. Mas acontece que quando vemos os nossos ex-alunos em lugares de destaque, nas empresas ou em instituições públicas, sentimos um orgulho que talvez não merecemos sentir, porque se calhar eles estão nesses lugares mais pelo que demonstraram ser capazes lá fora do que demonstraram cá dentro. É por isso contraproducente marginalizar alunos que à partida são pouco trabalhadores ou que têm atitudes que são entendidas como de desinteresse pela matéria que tanto trabalho dá ao professor transmitir!
Também tenho deparado com alunos na indústria que me surpreendem pela forma como ainda tratam o Professor como se estivessem na Universidade a discutir um projeto, isto passados mais de 20 anos da sua formatura. É deveras interessante estar ao mesmo tempo numa discussão de um "projeto" mas na qualidade agora de colega de um ex-aluno. Acontece a alguns de nós mais ligados ao exterior, por força de sermos engenheiros, e é aqui que a Universidade do Minho faz a diferença pois está rodeada de empresas que empregam os nossos alunos e que, através deles ou não, têm projetos com a UM ou com as interfaces da UM com o exterior. Quando dizem que o ensino é para toda a vida, é assim que ele o é, e a meu ver nunca o será pela forma como o querem fazer, com aulas pós-laborais, pois os alunos dessas idades não estão para serem tratados da mesma forma do que quando tinha 20 e poucos anos. Muitos dos seus professores no entanto muitas vezes não compreendem isso. Há uma forma diferente de ensinar estes alunos, mas continuo a dizer que a aprendizagem, é sempre mais fácil no seu local de trabalho, através de diálogos entre pares, aluno e professor, do que intramuros na UM, sujeito a uma cartilha desadequada para este tipo de aluno. Sinto que há um esforço ainda muito grande a fazer para se ajustar o ensino nos cursos pós-laborais para fazermos justiça ao enorme esforço que muitos destes alunos fazem para conciliar a sua vida profissional com a frequência de cursos de ensino superior.