sábado, março 10, 2012

Não façam nada demais

Temos cada vez mais uma sociedade que castiga aqueles que fazem alguma coisa. Não há muito tempo o betão era o alvo de todas as críticas. Fizeram-se autoestradas a mais sem dúvida, mas algumas que se fizeram dão muito jeito. Quem se lembra de ir a Viseu pela estrada antiga? Ou ao Algarve? Era um castigo. Agora são as obras que se fizeram nas Escolas. Talvez se tenha exagerado em algumas escolas com os materiais e há um famoso candeeiro que tem andado nas bocas do mundo. Mas alguém parou para pensar nas condições que os alunos têm agora em contraste com as que tinham há pouco mais de um ano? Basta aos mais velhos pensarem na escola onde os filhos andaram e que conheceram, nas reuniões de pais, em salas sem o mínimo de condições para as reuniões, e aos mais jovens de recordar o frio que passaram quando eram alunos. Havia reportagens de escolas onde chovia lá dentro! É tudo política e tudo serve para bater, escolhendo sempre o aspeto negativo. E se não se fizesse nada? Se o programa de melhoramento do parque escolar não fosse avante? Estaríamos satisfeitos que tínhamos poupado esse dinheiro? Passaram despercebidos anos do formação do Fundo Social Europeu em que se ensinava de tudo, e desde que os alunos recebessem e os monitores tivessem emprego, estava tudo sempre bem. O que é que ficou desses milhões que se gastaram desde 1986? Muito pouco. Esfumou-se. E atravessou todos os governos de todas as cores políticas! Mas as críticas não existem. Mas se uma escola foi intervencionada e lá alguém se entusiasmou e comprou um candeeiro desnecessário ou um material mais nobre, cai o Carmo e a Trindade. As Escolas e as estradas estão aí para ser usadas por futuras gerações. Mas e as "sebentas" dos cursos do FSE? Onde estão e para que servem?
Na Universidade também se adquiriram materiais nobres para algumas das instalações mais recentes. Mas as obras que se fizeram vieram melhorar muito as condições de trabalho tanto dos alunos como dos professores. No Ensino Superior numa perspetiva mais etérea, o que se fez em I&D que muitas vezes não tem consequências para a sociedade, é elogiado ao máximo enquanto que aquele professor que atende os alunos fora de horas mas não tem um currículo brilhante é muitas vezes desprezado. O que fica para a Sociedade nestes dois casos? O aluno que foi ajudado terá um futuro eventualmente mais seguro, ou a investigação do Professor servirá muito provavelmente só para ele ter currículo e subir na carreira. Não façam nada que não dê pontos, é o que parece ser o lema das avaliações, tal como o RAD. Quem monta um laboratório será recompensado? Quem apoia os alunos fora das suas obrigações mínimas é recompensado? Quem ajuda os colegas por ser mais antigo na carreira é recompensado? O ECDU recomenda que assim seja, mas se o RAD não o premeia, qual o incentivo?
É um mundo de números. No tempo do Salazar, o país acabou por ter enormes reservas de ouro e as contas que hoje fariam inveja a uma Alemanha. Mas a que custo? Não havia estradas, nem escolas que se comparassem às dos outros países. Não havia hospitais dignos desse nome. Hoje temos uma dívida que nos preocupa mas temos um Serviço Nacional de Saúde que faz inveja a muitos países desenvolvidos. Se não o tivessemos feito, a nossa dívida seria mais pequena, mas viveríamos como em muitos países e como há 40 anos atrás, com medo de ter um acidente ou doença porque não sairíamos vivos do hospital.
E se forem políticos não façam infraestruturas mas em vez disso façam discursos e usem e abusem da caridade que essa retira o orgulho a quem a recebe mas ao menos mantem-nos vivos e principalmente gratos; distribuam algumas mordomias pelos vossos eleitores e serão recompensados.
Voltando ao Ensino e I&D: Não façam nada demais, porque ninguém os vai recompensar, e sobretudo não façam nada pelos outros.